O que esperar ao abrir um Brunello Di Montalcino?
Você já experimentou um Brunello di Montalcino? Este vinho pertence a uma das denominações de origem mais famosas da região de Piemonte, no noroeste da Itália, e é conhecido por apresentar sabores e aromas complexos e marcantes.
Entretanto, é preciso se preparar para degustá-lo. Para alguém que está acostumado com vinhos mais jovens, abrir um Brunello di Montalcino pode ser uma experiência confusa, especialmente se não souber o que irá encontrar.
Pensando nisso, elaboramos um conteúdo com tudo o que você precisa saber antes de degustar esse estilo de vinho, sua história, regras de produção, características e dicas de harmonização. Confira com a gente!
Como surgiu o Brunello di Montalcino
Para entender por que o vinho Brunello di Montalcino é tão especial, é importante saber um pouco de sua história. Sua criação está ligada à família de vinicultores italianos Biondi Santi.
Tudo começou no século 19, quando Clemente Santi, um botânico que habitava a região de Montalcino, decidiu estudar as uvas Sangiovese e técnicas de vitivinicultura a fim de fazer um vinho varietal com grande potencial de envelhecimento.
No decorrer do processo, ele descobriu que as uvas que estava manipulando eram um tipo de Sangiovese, conhecidas na região como “Brunello”, palavra que, em italiano, significa “marrom”. Era chamada assim graças à sua casca escura, que proporcionava aos vinhos uma coloração com a mesma característica.
A partir de então, passou a se dedicar a produzir vinhos dessa uva, recebendo premiações pelo desenvolvimento de rótulos marcantes e deliciosos.
A vinícola da família Biondi Santi continua produzindo vinhos até hoje.
Anos depois, seu neto Ferruccio Biondi Santi, que também se interessava pela vitivinicultura, decidiu seguir os passos do avô, herdando as propriedades em que ele produzia seus vinhos.
À época que começou sua produção, a Europa era atacada pela filoxera, uma praga que tornava as vinhas improdutivas. Para evitar o prejuízo financeiro, muitos produtores apostaram na produção de vinhos jovens, porém Ferrucio resolveu ir contra a corrente.
Por meio de estudos, ele passou a desenvolver vinhos a partir da uva Brunello que tivessem mais longevidade e suportassem a filoxera, independentemente de quanto tempo isso levaria. Esse processo demorou quase 30 anos, porém o resultado foi o Brunello di Montalcino como conhecemos hoje.
Em 1932, o Ministério da Agricultura da Itália escreveu um relatório declarando que o Brunello di Montalcino era uma criação de Ferruccio Biondi Santi. Sua fama se espalharia por todo o país e pelo mundo a partir de 1950, no período pós-guerra, com o crescimento da vinicultura.
O terroir de Montalcino
Vale lembrar que, além do trabalho humano e da dedicação dos produtores, o terroir de Montalcino tem grande contribuição para o vinho. Trata-se de uma comuna localizada na Toscana, a cerca de 40 quilômetros da costa oeste da Itália.
A incidência de sol na região é perfeita para que as uvas fiquem bem maduras, porém não a ponto de amadurecer rápido demais. Além disso, o local não recebe tempestades de verão, apenas chuvas durante o outono e inverno, e a neve só atinge locais com grande altitude.
Paisagem da cidade de Montalcino, na Itália.
Por fim, o solo é muito bem equilibrado, sendo composto por argila, o que proporciona uma boa fertilidade, mas também areias e pedras, o que limita as vinhas a dar poucos frutos e concentrar mais o sabor e a mineralidade.
Como é feito um Brunello di Montalcino
Como qualquer Denominação de Origem Controlada e Garantida da Itália, há uma série de regras que as vinícolas devem seguir. Isso assegura uma melhor qualidade e também constância no padrão dos vinhos da região.
Você já sabe qual a uva do Brunello di Montalcino: a casta Brunello, um clone da Sangiovese, às vezes chamada de Sangiovese Rosso. Além disso, os vinhos devem ser produzidos na comuna de Montalcino, evidentemente.
Prosseguindo, as vinhas devem ter uma densidade de plantio de 3 mil plantas por hectare, para que suas características fiquem mais concentradas. Após a vinificação, os vinhos devem passar por estágio em barrica de pelo menos dois anos e, em seguida, repousar por quatro meses em garrafa.
Seu teor alcoólico tem que ser de, no mínimo, 12,5%. Devem ser comercializados em garrafas Bordeaux com vidro escuro e rolha de cortiça maciça. Há ainda uma série de regras técnicas com relação a altitude, exposição do sol e sistemas de poda.
Características do Brunello di Montalcino
Por toda a história e pelas regras de produção que explicamos, você já deve imaginar a complexidade do Brunello di Montalcino. Para se ter uma ideia, esses vinhos atingem o período ideal de consumo 10 anos após engarrafados, e muitas vezes podem ficar armazenados por até 50 anos. Parece muito tempo, mas a espera vale a pena!
Importante: ao abrir um vinho desses, é necessário deixá-lo respirando, muitas vezes por horas. Devido ao tempo que fica armazenado, precisa de contato com oxigênio para que suas características se aflorem.
Caso você não respeite esse tempo, os sabores e aromas estarão muito fortes, o que pode ser desagradável. Uma dica para acelerar o processo é deixar o vinho em um decanter por entre uma e três horas antes de consumi-lo. Durante esse tempo, vá experimentando e percebendo se a bebida já está própria para beber.
A coloração de um Brunello di Montalcino jovem é rubi brilhante e pouco translúcido. Conforme vai envelhecendo na garrafa, seus halos ficam mais atijolados e acastanhados.
As bordas de um Brunello di Montalcino são acastanhadas.
No paladar, traz taninos acentuados e muita acidez, além de um bom peso de boca. Já nos aromas, apresenta alta complexidade, podendo ter notas de frutas vermelhas e negras, flores, ervas secas, mineralidade, couro, especiarias e chocolate, dependendo do rótulo.
Harmonização do Brunello di Montalcino
Para combinar com toda a elegância do Brunello di Montalcino, será necessário escolher pratos igualmente sofisticados. Dessa forma, você consegue equilibrar taninos e acidez e criar uma experiência de degustação única.
Entre as harmonizações mais apreciadas estão as aves de caça assadas, como faisão, perdiz, peru, codorna e pato. Capriche nos temperos, utilizando ervas frescas e trufas negras para trazer complexidade ao prato.
No caso das carnes vermelhas, o pernil de cordeiro é uma excelente opção. Pratos típicos italianos, como a bistecca alla fiorentina, funcionam muito bem, pois são ricos em sabor, intensidade e suculência.
A bistecca alla fiorentina, típica da Itália, harmoniza com o Brunello di Montalcino.
Para quem gosta de risotos cremosos, vale experimentar a harmonização com Brunello di Montalcino! A sugestão é preparar o prato com funghi secchi e queijo pecorino, trazendo ainda mais sabores.
Por falar em queijos, para combinar com esse tipo de vinho, prefira os mais maturados, de pasta dura, como parmesão, pecorino romano e grana padano. Experimente ralá-los sobre um macarrão ao molho de ragu de linguiça.
Agora você está preparado para degustar um Brunello di Montalcino. Esses vinhos são muito complexos, carregados de sabores e aromas. Sabendo aproveitá-los, você terá uma experiência única!
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Flávia
Sommelier internacional pela FISAR/UCS, pós-graduada em Marketing e Negócios do Vinho pela ESPM. Há 10 anos atuando no mercado e através de diversos canais de mídia especializados no mundo do vinho. Propago conhecimento para enófilos e amantes da bebida. Falar sobre vinhos é um prazer!
