O que é Champagne? Tudo sobre o famoso espumante!
Não há uma forma fácil de explicar o que é Champagne. O famoso espumante francês, produzido na região de mesmo nome, foi desenvolvido a partir de um longo processo de melhorias e com a participação de alguns dos maiores enólogos da história.
Para se ter uma ideia, são vendidas mais de 300 milhões de garrafas por ano, de acordo com dados da revista Forbes. Todos esses exemplares devem ser chancelados pelo Comité Champagne, uma associação local responsável por assegurar o padrão de qualidade da bebida.
Continue a leitura para desvendar os segredos da história e dos métodos de produção de um dos vinhos mais importantes do mundo!
A região de Champagne
Antes de falarmos a respeito deste tipo de vinho, é preciso entender sobre o local em que é produzido. Também conhecida como Champagne, a região era uma província no nordeste da França durante a monarquia.
As uvas viníferas são plantadas desde a época do Império Romano. Uma das primeiras vinícolas que se tem registro pertencia ao bispo Remígio, por volta do século 5 d.C. Nesta época, os vinhos produzidos eram chamados de vins de Reims (em alusão à cidade de Reims) ou vins de la rivère (uma referência ao rio Seine), que banha o local.
Em 1927, foi delimitada por lei, ocupando cerca de 34 mil hectares localizados a cerca de 140 quilômetros de Paris. Seu clima é um dos mais frios da França, sendo banhada por chuvas constantes na primavera e no outono – apesar de receber uma boa quantidade de luz solar no verão.
Origem da Champagne
Quando dizemos que a Champagne demorou muito tempo para se desenvolver, estamos falando de séculos de história. Isso porque desde o início da vinificação na região, uma série de personagens e fatores participaram ativamente para criar a bebida como conhecemos hoje.
Confira, a seguir, uma linha do tempo para a criação dessa importante bebida!
Precedentes
Antes do desenvolvimento da Champagne, os vinhos “efervescentes” já eram conhecidos por alguns produtores. O primeiro registro que se tem ocorreu no ano 1531, quando alguns monges da Abadia de Saint-Hilaire, região central da França, descobriram uma forma de criar bebidas com borbulhas.
O problema, entretanto, era que não conseguiam armazenar os vinhos mantendo suas borbulhas, por isso precisavam consumi-los logo após a fermentação. O domínio dessa técnica só aconteceria mais de um século depois.
Hoje, a região de Saint-Hilaire continua produzindo vinhos espumantes, que são chamados de Blanquette de Limoux.
Os primeiros “vinhos de Champagne”
Como já abordamos, os vinhos são produzidos na região de Champagne há milênios. A produção de bebidas espumantes, entretanto, ocorreu por um acaso, graças à demanda dos ingleses.
Durante o século 17, essas bebidas eram exportadas da França para a Inglaterra em barris, para que fossem engarrafadas lá. Durante o tempo em que estavam em trânsito, graças à mudança de temperatura, a fermentação era reiniciada, gerando gás carbônico – ou seja, pequenas borbulhas.
À época, isso era considerado um problema do ponto de vista dos produtores, pois não se tratava de algo intencional, e sim de um defeito nas bebidas que haviam produzido. Já os ingleses se interessaram por aqueles vinhos diferentes e incentivaram os franceses para que não parassem de produzir bebidas efervescentes.
Se não fosse por esse “acidente”, provavelmente os vinhos de Champagne seriam muito diferentes de como conhecemos hoje.
A contribuição de Dom Pérignon
A criação da Champagne está muito ligada à figura do monge beneditino Dom Pérignon, que viveu entre 1638 e 1715. Embora haja muitos mitos acerca desse episódio, ele realmente teve um papel muito importante no desenvolvimento desses espumantes.
Reza a lenda que o monge, que era responsável pela cava da Abadia de Hautvillers, percebeu que, durante o inverno, os vinhos soltavam pequenas bolhas. A princípio, tentou evitar que isso acontecesse, porém, ao provar essa nova bebida, ficou muito impressionado com seu sabor.
Seu grande problema era que, ao produzir borbulhas em excesso, a pressão era tanta que algumas rolhas eram expelidas e outras garrafas chegavam a explodir – algo que fazia com que muitos monges chamassem aquelas bebidas de “vinho do diabo”.
Diante disso, Dom Pérignon passou a pesquisar métodos para fechá-las sem que o gás saísse, mas ficasse preso e se desenvolvesse. Assim, começou a importar garrafas reforçadas da Inglaterra, que fossem mais resistentes tanto no fundo quanto no topo, além de utilizar rolhas especiais vindas da Espanha, capazes de segurar maior pressão.
Outra contribuição importante do monge para o desenvolvimento da Champagne foi o avanço na produção de vinhos brancos a partir de uvas tintas, já que a principal casta utilizada para elaborar o espumante é a Pinot Noir.
Por meio da adição de leveduras e açúcar antes de engarrafar o vinho, Dom Pérignon deu origem à segunda fermentação em garrafa, algo que passou a ser conhecido posteriormente como método Champenoise. Hoje, uma das mais famosas vinícolas produtoras de Champagne leva seu nome.
A visionária Madame Clicquot
Outra personagem determinante foi a Madame Barbe-Nicole Clicquot (1977 – 1866), conhecida até hoje como a “grande dama da Champagne”. Esposa de um grande produtor da região, ficou viúva poucos anos após seu casamento, tendo que assumir o negócio da família aos 27 anos – em uma época em que as mulheres não tinham direito a votar, estudar ou trabalhar.
Por volta de 1811, Clicquot enxergou uma oportunidade de mercado na exportação dos vinhos de sua vinícola, em especial para a Rússia. Isso chamou a atenção da população do país, inclusive do Czar Alexandre I, e contribuiu para espalhar a fama da bebida pelo mundo.
Outra contribuição da Madame foi a invenção do método remuage. Lembra-se do Champenoise, em que a levedura e os açúcares eram acrescentados à garrafa para que continuassem fermentando? Isso acabava gerando uma grande quantidade de sedimentos e prejudicando a degustação da bebida.
Pensando nisso, Clicquot criou uma forma de deixar as garrafas inclinadas para baixo em um ângulo de 45 graus, para que, assim, a pressão eliminasse o excesso de sedimentos.
Para contribuir com o processo, ela girava a garrafa. Em um período de quatro a seis semanas, todos os vinhos eram rotacionados até 25 vezes, em padrões que variavam de ⅛ a ¼, deixando-os muito mais limpos e translúcidos.
Por muito tempo, esse método foi um grande segredo da vinícola da Madame Clicquot. Hoje, entretanto, faz parte da criação das Champagnes mais famosas e renomadas da França. A vinícola que ela comandava hoje leva seu nome: Veuve Clicquot, ou seja, viúva Clicquot.
Como é feita a Champagne
Agora que você já sabe alguns dos capítulos importantes do desenvolvimento da Champagne, chegou a hora de entender como essas bebidas são feitas. O método empregado é conhecido como Champenoise, algumas vezes chamado de “tradicional”.
Como a produção de qualquer vinho, o processo começa com a colheita. De acordo com a legislação do comitê de Champagne, todas as uvas devem ser colhidas à mão e em pequenos baldes, para que não sofram qualquer dano. Depois disso, elas são classificadas (também manualmente) e somente as melhores passam para a próxima fase.
As principais castas utilizadas na produção da Champagne são Pinot Noir, Pinot Meunier e Chardonnay, sendo as duas primeiras tintas, e a terceira, branca. Também são permitidas Pinot Blanc, Pinot Gris, Arbane e Petit Meslier, embora sejam menos usadas e em menor quantidade.
Dando prosseguimento, os frutos são prensados. De acordo com as normas, os produtores só podem extrair 2,5 mil litros de suco a cada 4 mil quilos de uvas – ou seja, teoricamente, só será utilizada a melhor parte do líquido.
O mosto é separado das cascas e levado a tonéis de inox ou barris de carvalho (dependendo do produtor) para que os sedimentos sejam separados do líquido. Nesta etapa, também ocorre a primeira fermentação (alcoólica), seja espontaneamente ou por meio da adição de leveduras, que transformam os açúcares em álcool.
Algumas vinícolas também permitem que o mosto passe pela fermentação malolática, que transforma ácidos málicos (presentes nas uvas) em ácidos láticos. Isso trará ao vinho uma textura mais cremosa e suave. Outros produtores impedem que esse processo ocorra para manter a acidez da bebida.
O próximo passo é o processo chamado de assemblage: os produtores misturam mostos de diferentes uvas e localidades (dentro da região de Champagne) para unir características e equilibrar sabores. Essa é uma das razões pelas quais esse tipo de vinho não tem indicação de ano da safra, já que pode conter sucos de períodos distintos.
Feita a assemblage, chegou a hora de engarrafar os vinhos! Juntamente com o mosto fermentado, são adicionados açúcar e leveduras para que a bebida passe por uma segunda fermentação enquanto armazenada.
As garrafas são seladas com tampas de metal, semelhantes às de cerveja. Enquanto isso, em seu interior, as leveduras começam a produzir álcool e dióxido de carbono como subproduto da fermentação, o que desenvolve as borbulhas no vinho.
Para que esse processo ocorra, as garrafas ficam armazenadas nas cavas da própria vinícola entre dois e seis anos, dependendo do vinho. Durante esse período, os produtores empregam o método remuage para remover os sedimentos.
Por último, as tampas de metal são substituídas por rolhas de cortiça maciça e, em alguns casos, também são acrescentados açúcares, neste momento, para balancear a acidez dos vinhos. As garrafas são mantidas durante mais alguns meses nas cavas até que atinjam o momento de serem comercializadas.
Se você chegou até aqui, já tornou-se um expert sobre o que é Champagne. Neste conteúdo, pudemos conferir um pouco do desenvolvimento desse importante espumante, bem como os protagonistas de sua história.
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Flávia
Sommelier internacional pela FISAR/UCS, pós-graduada em Marketing e Negócios do Vinho pela ESPM. Há 10 anos atuando no mercado e através de diversos canais de mídia especializados no mundo do vinho. Propago conhecimento para enófilos e amantes da bebida. Falar sobre vinhos é um prazer!