Como identificar o corpo do vinho? Saiba o que são vinhos encorpados
A riqueza do universo dos vinhos vai muito além das castas, safras e regiões de cultivo. Uma das características que mais influencia a experiência de quem aprecia a bebida é o corpo do vinho. Mas, afinal, o que significa dizer que um vinho é leve, de médio corpo ou encorpado? E como identificar essas nuances em cada taça?
Neste artigo, vamos explicar esse conceito em profundidade, desvendando como identificar o corpo do vinho e os fatores que determinam essa característica essencial para uma boa degustação. Você também vai conferir rótulos para cada referência!
O que é o corpo do vinho?
No mundo dos vinhos, o termo “corpo” refere-se à sensação de peso ou textura que a bebida proporciona na boca. Essa percepção pode variar entre leve, média ou encorpada, e está diretamente relacionada à concentração de componentes como álcool, taninos e acidez.
De forma simplificada, podemos dizer que o corpo do vinho é o peso e a intensidade que ele tem na boca. Ao tomar um gole, você sente que o vinho é mais robusto, como o leite integral, ou mais leve, como a água? Essa percepção é o corpo.
Vinhos leves são mais delicados, fáceis de beber e com menor presença de álcool e taninos. Já os vinhos encorpados possuem textura mais rica e marcante, geralmente com maior teor alcoólico e mais taninos, proporcionando uma experiência sensorial intensa.
Como identificar o corpo do vinho?
É importante prestar atenção em diversos aspectos durante a degustação. Embora o corpo tenha uma percepção diferente para cada ser humano, existem maneiras de avaliar, comparando diferentes vinhos e se concentrando em como eles se comportam na boca.
Como saber se o vinho é leve ou encorpado?
A maneira mais simples de identificar o corpo do vinho é observar a sensação de peso que ele deixa na boca. Aqui estão algumas dicas para entender essa característica!
Vinhos leves são mais fluidos e frescos, com uma sensação que lembra a leveza da água. Geralmente, possuem menos teor alcoólico, abaixo de 12%, e menos taninos.
A seguir, comparamos dois malbecs, um de corpo leve e outro encorpado, para que você tenha um entendimento prático sobre o corpo do vinho.
Vinho Tinto Argentino Las Caliches Malbec
Este rótulo se encaixa na categoria de vinho leve. É elaborado com a casta malbec, com estilo fresco e aromas de frutas pretas maduras, como cereja e ameixa, além de cassis e especiarias doces. Em boca, possui taninos envolventes combinados com acidez equilibrada.
É um vinho da denominação de origem Vale do Uco, na Argentina. O nome “Las Caliches” faz referência ao local onde os vinhedos estão situados, a 1.350 metros de altitude.
Harmoniza com churrasco de carne vermelha, empanadas argentinas, hambúrguer de carne, hambúrguer de grão-de-bico-, fondue de queijo, tábua de frios, lasanha à bolonhesa, bife empanado e almôndegas.
Vinhos de corpo médio têm presença mais perceptível na boca, mas ainda são fáceis de beber. Muitos vinhos com teor alcoólico entre 12,5% e 13,5% se encaixam nessa categoria.
O que é um vinho encorpado? São bebidas que possuem sensação densa e rica na boca. O Vinhos encorpados são robustos, com maior teor alcoólico (acima de 13,5%) e maior concentração de taninos, o que pode resultar em uma sensação adstringente.
Vinho Tinto Bodega Sottano Reserva de Familia Malbec
Um exemplo de vinho encorpado tinto é este exemplar da vinícola Bodega Sottano, situada no Vale do Uco e Luján de Cuyo, na Argentina, uma das regiões de maior prestígio no país.
O rótulo é elaborado 100% com a uva malbec e tem passagem de 14 a 18 meses em barricas novas de carvalho francês e americano. Normalmente, vinhos com passagem em madeira possuem peso maior em boca, conforme o tempo de permanência nos barris.
Possui coloração violácea e aromas de frutas pretas em compota, além de especiarias, como cravo-da-índia e pimenta-branca. No paladar, apresenta boa estrutura com taninos maduros, doces e sedosos.
Para harmonização, aposte em churrasco de costela, lasanha de filé com queijos, risoto de ossobuco, creme de queijos, fondue de queijos e carnes vermelhas, massas recheadas, tábua de charcutaria e queijos maduros.
Ao degustar, experimente comparar vinhos de estilos distintos para notar as diferenças no corpo. Isso ajuda a desenvolver seu paladar e a entender o que cada tipo de vinho oferece em termos de experiência sensorial.
Fatores que influenciam o corpo do vinho
O corpo de um vinho não é determinado por um único fator, mas por uma combinação de elementos que atuam juntos para criar a sensação de peso e textura. Vamos entender melhor os principais fatores que influenciam essa característica a seguir.
Teor alcoólico
O teor alcoólico é um dos principais fatores que influenciam o corpo do vinho. Em geral, quanto maior o teor alcoólico, mais encorpada será a bebida. Isso acontece porque o álcool contribui para a sensação de peso na boca, além de intensificar a percepção de calor durante a degustação.
Aqui está um resumo para recapitular:
- Vinhos leves: costumam ter menos de 12% de álcool.
- Vinhos de corpo médio: apresentam entre 12,5% e 13,5% de álcool.
- Vinhos encorpados: ultrapassam os 13,5% de álcool, podendo chegar a 15% ou mais em alguns casos.
Taninos
Os taninos são compostos encontrados, principalmente, nas cascas das uvas, mais comumente nas tintas, sendo responsáveis pela sensação de adstringência que se sente ao degustar alguns vinhos. Essa substância está presente especialmente nos tintos e é um fator importante na definição do corpo.
Vinhos com menos taninos tendem a ser mais leves, como o pinot noir. Já os rótulos com muitos taninos são mais encorpados e apresentam uma textura mais robusta, como os elaborados com a uva tannat, casta símbolo dos rótulos uruguaios.
A quantidade de taninos varia de acordo com a casta da uva, o processo de vinificação e o tempo que o vinho passou em contato com as cascas durante a fermentação.
Vinho Espanhol Montemar Garnacha
Este é um vinho com taninos presentes e acidez vibrante. É elaborado na Cataluña D.O., na Espanha, com a casta garnacha, que produz vinhos intensos e frutados, como o Montemar. Em taça, apresenta coloração rubi, com aromas de frutas vermelhas sobremaduras, como morango e cereja, além de couro e notas de ervas secas.
Combina muito bem com risoto de carne, hambúrguer de costela, tábua de queijos e frios e churrasco de carnes vermelhas.
Acidez
A acidez também desempenha um papel importante na definição do corpo do vinho. Rótulos com alta acidez tendem a parecer mais leves, independentemente do teor alcoólico ou dos taninos, pois a acidez cria uma sensação de frescor e leveza.
A acidez não deve ser confundida com a acidez de frutas cítricas, mas, sim, com a estrutura que o vinho ganha na boca. Um vinho com acidez equilibrada, mesmo sendo encorpado, proporciona uma experiência agradável e harmoniosa.
Vinho Atlantis Albariño Rías Baixas D.O.
Este vinho é elaborado com a uva albariño (ou alvarinho). Apresenta coloração amarelo-brilhante, com reflexos esverdeados. Possui intenso aroma de maçã-verde e frutas tropicais, como abacaxi.
É um rótulo fresco, de acidez agradável, bem equilibrado e com taninos estruturados. Na harmonização, aposte em pratos com peixes e frutos do mar.
Processo de envelhecimento
O processo de envelhecimento também afeta diretamente o corpo do vinho. Durante essa fase, a bebida evolui, desenvolvendo aromas, sabores e texturas mais complexos. Existem diversos métodos, sendo os mais conhecidos o envelhecimento em barris de carvalho e o bâtonnage; cada um contribuindo de forma única para a composição final do vinho.
O envelhecimento em barris de carvalho é um dos métodos mais tradicionais na vinificação e é amplamente utilizado para adicionar complexidade e corpo ao vinho. Durante o tempo em que o líquido permanece nos barris, ele interage com a madeira, que libera compostos que influenciam tanto o sabor quanto a textura da bebida.
O carvalho contribui para uma maior sensação de estrutura no vinho, tornando-o mais encorpado e com uma textura mais rica e aveludada. Isso acontece porque os compostos da madeira, como lignina e taninos, interagem com os taninos naturais do vinho, suavizando-os e conferindo maior complexidade.
O carvalho adiciona ao vinho sabores e aromas típicos, como notas de baunilha, especiarias, coco e, em alguns casos, um leve toque de defumado. Esse processo é especialmente comum para um vinho tinto intenso, mas também pode ser utilizado para um rótulo branco, como o chardonnay.
A intensidade dessas características depende do tempo que o vinho passa no barril. Vinhos que possuem mais contato com o carvalho tendem a ser mais robustos e encorpados. Além disso, o tipo de carvalho (francês, americano, etc.) e se o barril é novo ou usado também contam.
Vinho Argentino La Espera Reserva Carpe Diem Chardonnay
Este chardonnay proveniente da vinícola Funckenhausen, é envelhecido em barricas de carvalho francês. Tem coloração amarelo-brilhante, aromas de frutas sobremaduras, como pêssego, damasco e nectarina, e notas minerais e defumadas. No paladar, possui boa estrutura e final persistente.
É o rótulo ideal para acompanhar frango recheado, batatas rústicas, tortei ao molho de nata e nozes, assim como risoto de quatro queijos, tábua de queijos e castanhas.
Quanto à bâtonnage, é uma técnica de envelhecimento que envolve o movimento e a agitação das borras (sedimentos finos de leveduras mortas) durante o processo de maturação do vinho. Essa técnica é especialmente utilizada em rótulos brancos e também tem impacto na textura e no corpo da bebida.
Esse método confere ao vinho uma sensação de corpo mais rica e textura cremosa. Ao agitar as borras no vinho, elas liberam polissacarídeos que ajudam a aumentar a sensação de densidade na boca, tornando o vinho mais encorpado e macio. Esse método é comum em vinhos brancos, como o chardonnay, especialmente em regiões como a Borgonha.
A técnica de bâtonnage também contribui para a complexidade dos aromas e sabores, trazendo notas de pão, nozes e leveduras, que lembram o perfil gustativo de vinhos espumantes. O contato prolongado com as borras ajuda a criar uma camada adicional de profundidade ao vinho.
Outra característica importante da bâtonnage é seu efeito suavizador na acidez do vinho. Bebidas que passam por esse processo tendem a ter acidez mais equilibrada e perfil gustativo mais arredondado, o que contribui para uma experiência de degustação mais harmoniosa.
Vinho francês Jean Bouchard Bourgogne Chardonnay
Este chardonnay, elaborado a partir de uvas selecionadas da Borgonha, passa pelo processo de bâttonage para que o frescor da bebida seja preservado. O líquido é mantido nas cubas pelo período de 10 a 12 meses.
Como resultado, temos um vinho de cor amarelo-palha com reflexos prateados, e aromas de frutas amarelas com caroço, como pêssego e ameixa branca. No paladar, há notas de calcário, excelente acidez e um leve toque citrino que remete a limão-siciliano, com final de boca ultralongo.
Para harmonizar, opte por mariscos, peixe branco grelhado, carne branca grelhada, tagliatelle com salmão, frango ensopado com cebolas ou risoto de vieiras.
Identificar o corpo do vinho é uma habilidade que se desenvolve com a prática e a atenção aos detalhes durante a degustação. Vinhos leves, de corpo médio ou encorpados proporcionam experiências sensoriais diferentes, e entender essas variações é essencial para escolher a garrafa ideal para cada ocasião.
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Flávia
Sommelier internacional pela FISAR/UCS, pós-graduada em Marketing e Negócios do Vinho pela ESPM. Há 10 anos atuando no mercado e através de diversos canais de mídia especializados no mundo do vinho. Propago conhecimento para enófilos e amantes da bebida. Falar sobre vinhos é um prazer!