Vinhos de clima quente e frio: saiba as diferenças
A geografia de uma região vinícola é decisiva no estilo e no sabor dos vinhos que ali são produzidos. Entre os diversos fatores que influenciam a viticultura, o clima é um dos mais impactantes. Rótulos de clima quente e frio apresentam características muito distintas, determinadas pela temperatura, pela incidência solar e pelo padrão de chuvas da localidade onde as uvas crescem.
Neste artigo, vamos explicar as diferenças entre vinhos de clima quente e frio, como as condições do tempo afetam o cultivo de uva e as características do vinho, além de abordar como as mudanças climáticas vêm alterando esse cenário globalmente. Você também vai conferir exemplos de regiões vinícolas, as castas mais comuns cultivadas nesses climas e sugestões de rótulos para conhecer. Boa leitura!
Clima quente e frio
Durante o processo de amadurecimento de uma fruta, é possível observar que ela apresenta sabores diferentes. Uma banana verde, por exemplo, tem um gosto adstringente, que amarra a boca. Quando fica mais amarelada, o sabor é balanceado entre acidez e dulçor, até que passa do ponto e torna-se completamente doce. O mesmo processo ocorre com as uvas.
Dito isso, é importante saber que, quanto maior e mais constante for o calor em uma região, mais rápido as uvas tendem a desenvolver açúcar. Isso porque a radiação solar acelera a quebra de partículas que conferem sabor azedo/amargo, e apressa o aumento de sacarose, glicose e frutose.
Esse processo também pode influenciar nos aromas da fruta, já que essa característica está diretamente ligada às suas substâncias.
Portanto, em linhas gerais, uvas que crescem em regiões de clima quente tendem a gerar vinhos mais adocicados e frutados, e menos ácidos. Já as de clima frio costumam produzir bebidas com mais acidez e rusticidade, e menos dulçor.
Vale lembrar que outros fatores também podem influenciar as características das uvas, como as correntes de ar, a altitude e o tipo de solo.
Qual o clima ideal para cultivar uva?
Não existe um clima ideal único para todas as uvas, pois cada variedade se adapta melhor a condições climáticas específicas. Algumas castas, como a cabernet sauvignon, prosperam em regiões mais quentes, enquanto outras, como a riesling, preferem ambientes mais frios, como grande parte das castas brancas.
O clima ideal para a viticultura depende, portanto, da variedade de uva que está sendo cultivada e do estilo de vinho que se deseja produzir.
Características dos vinhos de clima quente
Vinhos de clima quente são frequentemente mais encorpados, com taninos robustos e sabores de frutas maduras, como ameixas, cerejas e amoras. As bebidas também costumam apresentar notas de especiarias doces e chocolate devido à alta maturação das uvas.
Em climas mais quentes, as cepas têm mais exposição ao sol, o que favorece o acúmulo de açúcar nas bagas. É muito comum que vinhos produzidos nessas regiões também tenham maior graduação alcoólica.
Isso acontece porque, durante a fermentação, as partículas de açúcar são transformadas em álcool. Como há alta quantidade de sacarose, glicose e frutose, o resultado é o maior teor da substância.
Outra característica das uvas de clima quente é a casca mais grossa, também resultante da maior incidência de radiação solar. Ao serem vinificadas, conferem mais taninos e corpo ao vinho.
O desafio dos vinicultores é justamente conseguir equilibrar todos esses fatores: fazer um vinho em que os açúcares estejam bem presentes, mas que a acidez não seja apagada; que os taninos estejam equilibrados e que o teor alcoólico não seja desproporcional ao conjunto das características da bebida.
Os principais países produtores de clima quente são os da América do Sul, como Argentina, Uruguai e sul do Brasil, do sul da Europa, como Portugal, Espanha e Itália, além da Austrália.
Rioja, Espanha
Localizada ao norte da Espanha, Rioja é uma das regiões mais renomadas do país e é conhecida por seus vinhos tintos de clima quente, especialmente os feitos a partir da casta tempranillo, que resulta em bebidas de taninos macios, acidez equilibrada e sabores de frutas vermelhas, como morango e cereja.
O clima é quente, mas moderado por conta da proximidade com as montanhas, que oferecem noites frescas e ajudam a equilibrar a maturação das uvas. Os vinhos de Rioja são famosos por serem encorpados, terem taninos firmes e notas de frutas vermelhas maduras, baunilha e couro.
Vinho Tinto Espanhol La Garnacha Salvaje De Moncayo
Rioja também é conhecida pelo cultivo da casta garnacha, que confere notas de frutas maduras e especiarias aos vinhos, além de adicionar corpo e álcool aos rótulos.
Um exemplar da casta é o La Garnacha Salvaje De Moncay, um vinho de coloração rubi-intensa e aromas de geleia de frutas pretas e especiarias. No paladar, entrega intensidade e corpo, sendo indicado para acompanhar t-bone grelhado ou hambúrguer com bacon.
Napa Valley, Estados Unidos
A região vinícola de Napa Valley, na Califórnia, é um exemplo clássico de vinhos de clima quente. Com sol abundante e verões secos, Napa é ideal para o cultivo de uvas cabernet sauvignon, merlot e zinfandel.
- Leia também: Vinhos dos Estados Unidos: um guia completo!
Os vinhos de Napa são frequentemente ricos e intensos, com sabores concentrados de frutas escuras, especiarias e notas de baunilha provenientes do envelhecimento em barris de carvalho.
Vinho Americano Black Stallion Cabernet Sauvignon
Este exemplar da vinícola Black Stallion possui aromas de amoras, cerejas e tostado. No paladar, é encorpado e concentrado, com nuances de cassis, amoras e ameixa. Tem taninos arrojados e acidez equilibrada.
É um rótulo que harmoniza muito bem com lombo grelhado, queijos azuis cremosos, costeletas de porco com pimenta ou peito de pato com ameixas grelhadas.
Mendoza, Argentina
Mendoza é o coração da produção de vinhos na Argentina, conhecida por seus malbecs encorpados e poderosos. Situada nas encostas da Cordilheira dos Andes, Mendoza recebe muita luz solar durante o dia, mas as noites são frescas, permitindo uma excelente maturação das uvas.
Os vinhos de Mendoza são ricos em cor, com sabores de ameixa, cereja preta e notas de especiarias, frequentemente apresentando taninos suaves e um final longo.
Vinho Tinto Argentino Santa Rosa Reserva Malbec
Este típico malbec argentino expressa o terroir de Mendoza, Argentina. As vinhas possuem poucos recursos hídricos e são submetidas à alta insolação, originando vinhos encorpados, ideais para serem harmonizados com pratos complexos, exatamente como este Santa Rosa Reserva.
- Veja também: Entenda a diferença entre vinho reserva e reservado
Para harmonizar, experimente com churrasco de costela, massa à carbonara, lasanha de queijos, espaguete ao pesto, iscas de filé com gorgonzola e risoto de filé.
Características dos vinhos de clima frio
Em contraste aos de clima quente, os vinhos de clima frio são mais leves, com acidez elevada e perfis aromáticos mais delicados. A acidez acentuada é uma característica marcante, que traz frescor e estrutura aos rótulos, permitindo que envelheçam bem.
Além disso, os vinhos de clima frio tendem a ter menos álcool e apresentam notas de frutas frescas, como maçã-verde, limão e frutas vermelhas ácidas, além de flores e minerais.
Áustria
A Áustria é conhecida por produzir alguns dos melhores vinhos brancos de clima frio do mundo, especialmente com a uva grüner veltliner. O clima fresco do país permite que as castas mantenham alta acidez e sabores vibrantes, com notas de maçã-verde, pimenta-branca e toques minerais.
Vinho Branco Lenz Moser Prestige Pinot Gris
Refrescante e frutado, este é um vinho com notas de frutas cítricas, como lima e limão, e florais elaborado pela vinícola Lenz Moser, na região de Burgenland, na Áustria. Em taça, apresenta coloração amarelo-pálido.
O rótulo acompanha muito bem pratos leves, como risoto de aspargos, brie folhado com geleia de damascos, creme de aspargos com carnes brancas, peito de frango grelhado, sushi, sashimi e tábua de queijos.
Alto Adige, Itália
Localizada no norte da Itália, a região de Alto Adige é famosa por seus vinhos brancos aromáticos de clima frio, como pinot grigio e gewürztraminer.
O clima alpino da região resulta em bebidas frescas e crocantes, com alta acidez e uma incrível pureza de frutas. Os vinhos de Alto Adige são elegantes, com aromas florais e notas cítricas.
Vinho Tinto Italiano Peter Zemmer Lagrein
O rótulo é elaborado com a casta lagrein, cultivada na região do Alto Adige em condições perfeitas. Os solos são calcários e as uvas são fermentadas por sete dias em temperatura constante. Esses e outros cuidados na produção resultam em um vinho aveludado, elegante e de caráter frutado.
Em taça, desenvolve coloração rubi a granada-escuro. O aroma é intenso e fresco de frutos selvagens e violetas.
Para a harmonização, experimente com carnes vermelhas, assados, carnes de caça e queijos duros.
Champagne, França
Champagne, no norte da França, é a mais icônica região de vinhos espumantes do mundo. O clima frio, com verões curtos e invernos rigorosos, contribui para a alta acidez das uvas chardonnay, pinot noir e pinot meunier, usadas na produção do famoso espumante.
Os vinhos espumantes de Champagne são conhecidos por sua efervescência fina, seu frescor e seus sabores de maçã-verde, brioche e amêndoas torradas.
Champagne Moutard Brut Nature
Este é um vinho espumante produzido pela Maison Moutard. A denominação Brut Nature indica que se trata de um Champagne seco e com baixo teor de açúcar residual.
É denso, opulento, bem arredondado e com notas de brioche. Apresenta um final macio e de grande duração. Possui excelente equilíbrio de fruta e notas ligeiramente picantes.
Para a harmonização, opte por carne de porco, salmão, pratos com mariscos e queijos suaves e moles.
Impacto das mudanças climáticas na produção de vinhos
As mudanças climáticas resultantes do aquecimento global vêm impactando as produções vitiviníferas ao redor do mundo. Com o aumento da temperatura do planeta, questões sobre como cultivar uvas em climas quentes e alternativas de cultivo e colheita têm sido essenciais para o desenvolvimento de rótulos de qualidade.
Uma das práticas adotadas tem sido a colheita antecipada, na tentativa de equilibrar a maturação das uvas para evitar que elas percam sua acidez característica. Uma alternativa praticada pelos produtores do Novo Mundo é a colheita noturna, a fim de evitar as altas temperaturas do dia.
Um novo estudo publicado na revista Nature aponta as consequências das mudanças de temperatura, precipitação, umidade, radiação e CO2 na produção global de vinhos e avisa que as mudanças climáticas vão exigir adaptação dos produtores.
“Cerca de 90% das regiões vinícolas tradicionais nas áreas costeiras e de planície da Espanha, Itália, Grécia e sul da Califórnia podem estar em risco de desaparecer até o final do século devido à seca excessiva e às ondas de calor mais frequentes com as mudanças climáticas“, informam os pesquisadores.
Por consequência, novas regiões de cultivo de vinho devem aparecer em áreas até então inadequadas, a exemplo do sul do Reino Unido, Washington, Oregon, Tasmânia e norte da França.
Temperaturas mais altas alteram o ciclo de amadurecimento das uvas. Segundo a pesquisa, na maioria das regiões vinícolas, as colheitas avançaram em duas a três semanas nos últimos 40 anos, provocando mudanças na qualidade e no estilo dos vinhos.
Já o aumento da seca reduz a produtividade. O uso de material vegetal resistente à seca e a adoção de sistemas de irrigação são opções eficazes para lidar com o declínio da disponibilidade de água.
O surgimento de novas pragas e doenças, assim como a crescente ocorrência de eventos climáticos extremos como ondas de calor, tempestades e possivelmente granizo, também desafiam a produção de vinho em algumas regiões. Em contraste, outras áreas podem se beneficiar da redução da pressão de pragas e doenças.
Compreender as diferenças entre vinhos de clima quente e frio é fundamental para apreciar a diversidade de estilos disponíveis no mercado. Enquanto as bebidas de clima quente oferecem sabores intensos e encorpados, as de clima frio são mais delicadas, com acidez marcante e uma paleta de sabores mais complexa.
O impacto das mudanças climáticas sobre a viticultura é inegável, e o futuro trará desafios e oportunidades para os produtores. Ao experimentar rótulos de diferentes climas e regiões, você poderá perceber como o ambiente influencia diretamente o sabor e a estrutura de cada bebida.
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Flávia
Sommelier internacional pela FISAR/UCS, pós-graduada em Marketing e Negócios do Vinho pela ESPM. Há 10 anos atuando no mercado e através de diversos canais de mídia especializados no mundo do vinho. Propago conhecimento para enófilos e amantes da bebida. Falar sobre vinhos é um prazer!