Como era feito o vinho antigamente? Confira métodos milenares!
Não é exagero dizer que o vinho acompanha o ser humano desde o início da civilização. Para se ter uma ideia, foram encontrados em Hajji Firuz Tepe, região montanhosa do Irã, jarros que continham resquícios de uma bebida fermentada feita de uvas. Esse recipiente data do período Neolítico, por volta de 5 mil antes de Cristo.
Entretanto, a história do vinho não para por aí: é citado desde os primeiros capítulos da Bíblia Sagrada e em histórias da mitologia grega, além de estar presente na cultura dos egípcios, fenícios, persas, armênios e muitas outras civilizações primitivas.
Mas, afinal, como era feito o vinho antigamente? Prossiga com a leitura e confira alguns dos principais métodos milenares de produção – muitos deles utilizados até hoje!
Pisa das uvas
Uma das atrações mais comuns ao visitar uma vinícola é a pisa das uvas. Atualmente, esse ato é meramente recreativo e simbólico, e não é utilizado de fato para a produção de vinhos, entretanto, durante muito tempo, ele foi a principal forma de prensar os frutos.
Acredita-se que essa prática exista, pelo menos, desde o terceiro século antes de Cristo, na Roma Antiga. A primeira representação que se tem notícia é o Sarcófago Representando um Festival de Vindima Dionisíaco, uma escultura dedicada ao deus do vinho romano.
Durante a Idade Média, a pisa de uvas se popularizou em todo o Velho Mundo. A prática foi substituída aos poucos pelas primeiras prensas de madeira e, posteriormente, pela prensagem automática. O novo processo facilitou a vinificação e diminuiu a necessidade de trabalho humano.
Mas será que ainda há vinhos feitos dessa forma? Apesar de muito poucos, sim! Na região do Douro (onde é produzido o Vinho do Porto), em Portugal, essa tornou-se uma técnica muito tradicional, e é utilizada até hoje em alguns raros casos.
A principal razão é que, ao esmagar os frutos com os pés, é possível extrair o máximo de cor e polifenóis das uvas sem quebrar as sementes, evitando que as bebidas fiquem amargas.
Vinho com água do mar
Os oceanos têm uma importância fundamental na história do vinho, sendo o principal meio de transporte da bebida durante séculos. Porém, muito além dessa função, você sabia que há técnicas de produção que se utilizam da água do mar?
Vinho feito com água salgada
A primeira delas surgiu justamente na Roma Antiga em meados do século 2 a.C. A receita foi registrada pelo escritor e agrônomo Columela e consistia em infusionar o vinho com ervas aromáticas, frutas e mel, e em seguida, acrescentar uma boa quantidade de água do mar, o que traria sabores inesperados à bebida.
Atualmente, essa técnica pode até ser vista como absurda pela maioria dos enólogos, mas por incrível que pareça, algumas vinícolas têm se aventurado a testá-la, como a francesa Hervé Durand. O recipiente mais apropriado para a produção desse tipo de bebida é a ânfora, conforme abordaremos mais adiante.
Vinho envelhecido debaixo d’água
Outra técnica utilizando a água salgada que vem atraindo a atenção de alguns produtores é o envelhecimento dos vinhos em ambientes subaquáticos. É conhecida como terroir aquático ou “aquoir”.
Como outras grandes invenções da humanidade, ela foi descoberta por acaso em 2010, quando alguns mergulhadores encontraram 168 espumantes da região de Champagne submersos e intactos no fundo do mar Báltico. O carregamento datava do ano de 1841, e incluía rótulos da vinícola Veuve Clicquot.
Algumas dessas bebidas foram abertas e analisadas por sommeliers, que encontraram aromas específicos e sabores que duravam horas na boca. Não por acaso, alguns desses rótulos foram levados a museus para serem expostos. Outros, leiloados por pelo menos € 100 mil cada.
Após a divulgação dessa notícia, não demorou para que alguns produtores começassem a testar esse envelhecimento submerso para alguns de seus vinhos. Entre eles, podemos citar as vinícolas Bisson, na Espanha, Château Larrivet Haut-Brion, em Bordeaux, e até a Miolo, aqui no Brasil.
Por ser algo recente, ainda é uma técnica muito nova no mercado, e não há uma unanimidade a respeito dos testes. De qualquer forma, trata-se de um método bem diferente e que vale a pena ser experimentado!
Envelhecimento em ânforas de barro
Essa talvez seja uma das formas como eram feitos os vinhos antigamente mais difundidas, ainda que, proporcionalmente, seja utilizada por uma parcela muito pequena dos enólogos.
A ânfora é um tipo de recipiente feito de barro que existe desde o período Neolítico (por volta de 5 mil a. C.) e que tinha como principal objetivo a conservação de bebidas e alimentos. Com o desenvolvimento da produção de vinhos, algumas dessas civilizações antigas passaram a utilizá-la apenas para armazenar o líquido – primeiramente, os gregos e etruscos, e posteriormente, os romanos.
Após o século 4 d.C., foram criados novos tipos de garrafas, e esses recipientes foram caindo aos poucos em desuso. Entretanto, recentemente, alguns produtores voltaram a empregar esse método em regiões de Portugal, Estados Unidos, Geórgia e França. No Brasil, a vinícola Lidio Carraro lançou em 2018 o primeiro vinho envelhecido em ânforas.
Ao contrário do envelhecimento em tonéis de inox, o barro desse tipo de recipiente pode influenciar no sabor do vinho, porém menos que as barricas de carvalho, que acabam tendo uma grande interferência.
Quando pensamos em como o vinho era feito antigamente, percebemos que muitas técnicas podem ser reaproveitadas e repaginadas para a produção de rótulos nos dias atuais, com o objetivo de criar bebidas únicas com características específicas.
Se algum dia você puder experimentar um rótulo feito por meio dos métodos que citamos, vale muito a experiência. Para continuar recebendo conteúdos como esse que você acabou de ler, acesse a categoria entendendo de vinho do blog, clicando no banner abaixo:
Flávia
Sommelier internacional pela FISAR/UCS, pós-graduada em Marketing e Negócios do Vinho pela ESPM. Há 10 anos atuando no mercado e através de diversos canais de mídia especializados no mundo do vinho. Propago conhecimento para enófilos e amantes da bebida. Falar sobre vinhos é um prazer!