Conheça a filoxera, praga que dizimou vinhas europeias
Se você nunca ouviu falar da filoxera, a praga da uva que destruiu vinhedos por toda a Europa, chegou ao lugar certo. Neste conteúdo, vamos explicar como ela se espalhou pelo continente europeu e qual foi a solução encontrada para preservar a cultura vinícola da região e, consequentemente, aprimorar a de outros países. Boa leitura!
Afinal, o que é filoxera?
A filoxera é a denominação popularmente utilizada para descrever três espécies de pulgões: Phylloxera vastatrix, Daktulosphaira vitifoliae e Viteus vitifolii. Trata-se de um inseto que pode ter de 0,3 a 3 milímetros, capaz de atacar tanto as folhas quanto as raízes das plantas em um vinhedo.
Quando a filoxera acomete as folhas e os ramos da videira, prejudica a atividade fotossintética da planta, tornando-a amarelada e afetando seu desenvolvimento.
No entanto, a forma radícula (que atinge as raízes) causa prejuízos ainda mais graves. Isso porque, além de afetar a capacidade da planta de absorver nutrientes, deixa-a mais vulnerável ao ataque de outras pragas e também aumenta a probabilidade de fungos se desenvolverem na raiz.
História da filoxera
Marco na história do mundo dos vinhos, a filoxera dizimou vinhedos por toda a Europa no século 19, o que ocasionou a quase extinção de inúmeras castas mundialmente conhecidas.
Inclusive, a pandemia causada pelo pulgão foi o que motivou viticultores e enólogos a migrarem para outros países e levarem consigo enxertos para experimentação em regiões do Novo Mundo, como a América do Sul.
Mas como será que ela foi capaz de causar tamanha destruição? A seguir, explicamos a questão!
Origem
Por mais que a praga filoxera tenha dizimado os vinhedos europeus, na verdade, trata-se de um pulgão identificado pela primeira vez em 1854, nos Estados Unidos.
Na época, alguns produtores exportavam uvas americanas para experimentações na Europa e foi justamente esse o motivo do surto ter atingido o continente. Enquanto que as videiras estadunidenses eram (e são) imunes ao pulgão, espécies Vitis vinifera, ou seja, uvas europeias, não conseguem resistir à filoxera.
Primeiros indícios
Na Europa, o primeiro surto ocorreu em 1863 em Pujaut, uma comuna da França, e em Hammersmith, na Inglaterra. Dois anos depois, em 1865, a filoxera chegou em Portugal, com infestações no Vale do Rio Douro.
Em 1877, o inseto surge na Espanha, nas regiões de Málaga e Girona, na Catalunha. Em 1879, foi a vez da Itália, que identificou o pulgão na região de Valmadrera.
Em linhas gerais, após o primeiro registro da filoxera na Europa, em 1863, a situação se agravou rapidamente, uma vez que, na época, viticultores e biólogos ainda não sabiam a causa da destruição dos vinhedos.
A praga só seria descoberta em 1868, pelo biólogo francês Jules-Émile Planchon. Além disso, a solução para as infestações surgiu somente em 1890, quando o inseto já dominava a maior parte do continente.
Após 15 anos do primeiro surto, 40% dos vinhedos europeus já estavam completamente devastados, especialmente na França, um dos países que sofreu os maiores impactos econômicos por conta da filoxera.
Contenção
Encontrar uma solução para conter a infestação do pulgão foi um processo árduo, uma vez que o ciclo de vida dele é bastante complexo. Até hoje, não há controle da filoxera por meio do uso de defensivos agrícolas.
A única saída viável foi a criação de porta-enxertos com videiras americanas Vitis riparia, uma vez que essas são imunes ao pulgão. Consequentemente, são capazes de proteger as radículas das vinhas europeias. Com isso, castas Vitis vinifera foram enxertadas na base de raízes americanas, para que as plantas resistissem à filoxera.
Impactos ao redor do mundo
A pandemia causada pelos pulgões durou quase 50 anos e, durante esse período, a filoxera gerou uma enorme crise no mercado de vinhos, especialmente na França.
O impacto da praga nos vinhedos europeus fez com que diversos viticultores optassem por exportar videiras, na tentativa de evitar a extinção das espécies Vitis vinifera.
Castas mundialmente reconhecidas, como sauvignon blanc, malbec, cabernet franc e carménère, só vieram para a América do Sul porque foram trazidas ao continente durante a pandemia.
A carménère, inclusive, foi completamente dizimada no continente europeu por conta da filoxera, especialmente na região de Bordeaux. A exportação da casta para outros continentes é a razão pela qual os vinhos da categoria ainda existem!
Hoje, a contenção da filoxera se deve muito à expansão da cultura vinícola para outras regiões do mundo. Países como o Chile contam com o isolamento geográfico para se proteger do pulgão, enquanto outras áreas são imunes devido às características do solo.
Para o bem ou para o mal, o mundo dos vinhos como conhecemos hoje seria completamente diferente caso a filoxera não houvesse se espalhado de tal forma. O fato é que esse acontecimento descentralizou o cultivo de algumas cepas. Isso possibilitou que outros lugares tivessem a oportunidade de plantá-las e, com isso, produzir rótulos memoráveis.
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Flávia
Sommelier internacional pela FISAR/UCS, pós-graduada em Marketing e Negócios do Vinho pela ESPM. Há 10 anos atuando no mercado e através de diversos canais de mídia especializados no mundo do vinho. Propago conhecimento para enófilos e amantes da bebida. Falar sobre vinhos é um prazer!