Entenda por que alguns vinhos são mais caros que outros
Você já deve ter observado que os vinhos têm diferentes preços. Muitas vezes, um rótulo pode custar cinco vezes mais do que outro, mesmo ambos tendo sido feitos com a mesma uva, na mesma região e até pelos mesmos produtores.
Mas afinal, por que há alguns vinhos mais caros que outros? Essa é uma dúvida muito comum entre os apreciadores da bebida e que está diretamente relacionada à região, país, vinificação e maturação, além do nome da vinícola.
Continue a leitura até o fim e entenda as principais razões que fazem alguns rótulos terem um preço mais elevado e quais as diferenças dessas bebidas.
Vinhos especiais x Vinhos comerciais
Antes de falar sobre quais os fatores que influenciam no valor de um rótulo, é importante esclarecer a diferença entre os chamados vinhos especiais (ou vinhos premium) e os vinhos comerciais.
Popularmente, costumamos chamar de vinhos especiais aqueles rótulos autênticos, feitos em quantidades menores e com características mais marcantes nos aromas e no paladar originadas a partir de processos complexos de produção.
Podemos citar como exemplo os vinhos Grand Cru franceses, os Brunello di Montalcino italianos e alguns rótulos do Novo Mundo. Por outro lado, também existem aqueles mais comerciais, produzidos para serem consumidos jovens, por serem leves, frescos e fáceis de beber.
Vale lembrar que isso não significa que um é melhor que o outro. Na verdade, eles podem ser apreciados em momentos especiais e até mesmo no dia a dia. Tudo vai depender do estilo de vida e preferências do consumidor.
Quais as razões que tornam um vinho mais caro?
Em geral, alguns vinhos tendem a ter maior valor devido aos processos de fabricação utilizados, que exigem mais cuidados. Além disso, podem ser mais caros quando são produzidos em regiões de grande prestígio. A seguir, listamos alguns dos principais fatores.
Processos de vinificação
Para começar, podemos mencionar que os processos de vinificação são complexos e exigem uma série de cuidados durante meses e até anos. Isso significa que, por si só, a produção de vinhos é cara.
Todo o manejo na vinha, desde o momento do plantio, seu manuseio, cuidados com as uvas no momento da colheita – seja ela manual ou mecânica – e a forma como as uvas são armazenadas antes da elaboração do vinho acaba impactando o valor final do exemplar.
E conforme esses processos vão sendo incorporados, mais alto será o preço, porém, isso resultará em um vinho com maior complexidade de aromas e sabores.
Vinhas velhas
As vinhas têm alto potencial de longevidade e, se bem cuidadas, podem frutificar por pelo menos 100 anos. Durante esse ciclo, essas plantas vão se modificando, o que confere características diferentes às uvas.
Com o passar do tempo, enquanto alguns galhos param de se desenvolver, a raiz continua crescendo verticalmente. Isso faz com que o número de uvas seja menor, porém os frutos que nascem concentram mais nutrientes, aromas e sabores.
Para a vinícola, fazer um vinho a partir de uvas de vinhas velhas é um risco, exige uma série de cuidados a mais e, consequentemente, isso acaba afetando na qualidade e no preço do vinho.
Terroir
O termo francês “terroir” é utilizado para se referir a diversos fatores relacionados à produção de um vinho: a região em que foi produzido, as condições climáticas, as propriedades geológicas e as uvas utilizadas.
Em alguns locais como o Vale Central do Chile, por exemplo, a produção é mais pensada em quantidade, por se tratar de uma grande área, enquanto outros terroirs de regiões como Priorato e Espanha possuem pequenos espaços de terra e poucas vinhas. Esses aspectos também impactam o valor final do produto.
Portanto, todo esse conjunto de fatores é determinante para que um vinho desenvolva características específicas de sabor, textura e aroma, que são impossíveis de se obter em outros lugares do mundo.
Com o passar dos anos, alguns desses terroirs ganharam reconhecimento por produzirem rótulos de altíssima qualidade. Naturalmente, a fama e a grande procura por esses vinhos fazem com que seu valor acabe sendo mais elevado.
Como exemplo, podemos citar os espumantes produzidos na região de Champagne, na França. São reconhecidos em todo o mundo por sua qualidade, que é fruto de uma região privilegiada em termos de vinificação e um processo de produção complexo que demorou séculos para se desenvolver.
Envelhecimento em barrica
Após a fermentação, o produtor pode tanto engarrafar o vinho e comercializá-lo dessa forma quanto deixá-lo repousando em barricas de madeira, um estágio conhecido como maturação.
A bebida pode ficar de meses até anos armazenada nesses barris, e durante esse tempo algumas das substâncias da madeira são transferidas, agregando novos aromas, sabores e texturas. Como consequência, o vinho acaba ficando mais encorpado e denso.
Para que o vinho seja maturado, é preciso que a vinícola tenha barricas, como as de carvalho francês, e um ambiente com controle de umidade e temperatura, livre de trepidações e inspeção de qualidade constante, mais um fator que agrega no preço final do vinho.
Isso porque, quando o vinho está dentro dessas barricas, é necessário um cuidado ainda maior com mudanças bruscas de temperatura e vazamentos.
Custo da embalagem
Vinhos jovens podem ser engarrafados em recipientes mais simples, como embalagens tetra pak, garrafas de vidro ou PET e bags plásticas, uma vez que seu consumo deve ocorrer pouco depois do envase. Já as bebidas premium precisam de garrafas com vedantes de qualidade.
Essas garrafas geralmente são feitas de vidro de alta qualidade em coloração escura para bloquear os efeitos da luz, que podem afetar negativamente o vinho.
Tudo isso é feito para que o vinho possa ser conservado da melhor forma e mantenha sua qualidade, porém, naturalmente, acarreta em uma série de questões logísticas e cuidados especiais por parte do produtor.
Menor número de garrafas produzidas
Os vinhos comerciais são produzidos em grandes quantidades graças ao emprego de processos industriais em diferentes etapas, desde a forma da colheita até o envase.
Para a elaboração de vinhos caros, por outro lado, os métodos empregados costumam ser mais cuidadosos: colheita à mão, prensagem em quantidades limitadas, fermentação controlada e uma série de outros processos. Isso resulta em menores quantidades de garrafas por safra.
Se há menos garrafas e mais procura, consequentemente, o valor por unidade se torna maior.
Safra
A qualidade de uma safra também é determinante para que um vinho seja mais caro ou barato, já que o ela está diretamente relacionada com os atributos das uvas colhidas naquele período.
Como o ciclo da videira é, na maioria das vezes, anual, todas as variações que ocorrem dentro desse período podem afetar o resultado final do cultivo, tanto positivamente quanto negativamente.
Nesse sentido, cada vez que uma safra é considerada de excelente qualidade, certamente os vinhos elaborados a partir dela serão mais caros, em vista do seu valor agregado no processo total de vinificação.
Contudo, é importante pontuar que por melhor que seja uma safra, ela depende de bons métodos de vinificação e cuidados para que o vinho seja, de fato, excelente, além das condições climáticas favoráveis.
Ou seja, na hora de considerar o preço de um rótulo, é preciso analisar o todo, para ter um panorama real sobre o valor agregado do produto final. É por isso que algumas safras são mais caras que outras, como no caso de vinhos franceses e italianos, regiões onde há diferenças expressivas em colheitas de um ano para outro.
Vinícolas premium
Quando falamos em preço dos vinhos, a reputação e legado da vinícola produtora também tem impacto no custo do produto final, principalmente se tratando daquelas localizadas em regiões historicamente renomadas.
Ter o nome de regiões tradicionais como Bordeaux, Champagne, Barolo, entre outros, no rótulo, até por serem reconhecidas por suas bebidas de grande qualidade, pode fazer com que o preço do produto seja mais alto.
Questões econômicas, transporte e taxas de importação
As questões econômicas, como as flutuações do câmbio e crises financeiras, atuam diretamente no preço dos vinhos. Com a desvalorização do Real, por exemplo, as taxas de importação acabam fazendo com que o preço de vinhos no Brasil suba.
Ainda sobre importações, é importante considerar os percentuais em cada país. No Brasil, o imposto cobrado é em torno de 20%, com exceção dos países que compõem o Mercosul, pois estes são isentos de tais tributações.
A distância do transporte no processo de importação também deve ser considerada. Taxas de transporte de Portugal até o Brasil, por exemplo, serão diferentes quando comparadas aos custos para trazer um vinho australiano até o território brasileiro.
Crítica especializada
Um vinho que recebe boas notas em guias especializados – como Guia Descorchados e Guia Penin – e é, de maneira geral, aclamado pela crítica, permite que a vinícola produtora ganhe prestígio e, consequentemente, tenha suas próximas safras valorizadas.
Ademais, se os produtores de um rótulo premiado forem capazes de manter a qualidade da bebida ano após ano, mesmo com as oscilações na safra, isso pode fazer com que a base de preço desses exemplares passe a ser mais alta, já que os vinhos tornaram-se não só caros, mas famosos.
Há uma série de razões que tornam um vinho mais caro, que estão ligadas à sua produção. O lado bom é que, geralmente, esses processos são capazes de gerar rótulos marcantes e únicos.
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Flávia
Sommelier internacional pela FISAR/UCS, pós-graduada em Marketing e Negócios do Vinho pela ESPM. Há 10 anos atuando no mercado e através de diversos canais de mídia especializados no mundo do vinho. Propago conhecimento para enófilos e amantes da bebida. Falar sobre vinhos é um prazer!