Quem inventou o vinho? Conheça a origem da bebida milenar
O vinho é uma das bebidas mais antigas e apreciadas da humanidade, com uma história que se estende por milênios e atravessa diversas culturas e civilizações. De festividades religiosas a degustações contemporâneas, a bebida tem desempenhado um papel significativo na sociedade.
Mas a pergunta que fica é: quem inventou o vinho? Para respondê-la, vamos viajar no tempo e descobrir a origem das uvas, o surgimento da bebida, os primeiros países produtores, a evolução das técnicas de produção e analisar, ainda, com ela bebida se popularizou pelo mundo. Boa leitura!
A origem das uvas
A origem do vinho está ligada à história das uvas, uma fruta que, ao longo de milhões de anos, evoluiu para produzir variedades com características ideais para a vinificação.
As uvas pertencem ao gênero Vitis, que inclui várias espécies, sendo a Vitis vinifera a utilizada na produção de vinho. Essa variedade é nativa da região do Cáucaso (que compreende áreas da atual Geórgia, Azerbaijão, Armênia e parte da Turquia) e do Oriente Próximo (Síria, Líbano, Israel, Palestina e Iraque), onde as primeiras evidências de vinificação foram encontradas.
As condições climáticas e geológicas da região, incluindo solos ricos em minerais e clima temperado, criaram um ambiente propício para o crescimento das videiras. As uvas selvagens, que originalmente cresciam de forma espontânea, foram adornadas pelo homem ao longo do tempo. A domesticação permitiu o cultivo de uvas com características desejáveis, como altos níveis de açúcar residual e boa acidez, essenciais para a produção de vinhos de qualidade.
Extinção dos dinossauros abriu caminho para as uvas
Se você já apreciou uma taça de vinho ou comeu passas, deve em parte à extinção dos dinossauros. Uma pesquisa publicada na revista Nature Plants trouxe à tona a descoberta de sementes fósseis de uva, datadas de 19 milhões a 60 milhões de anos, encontradas na Colômbia, no Panamá e no Peru. Essas sementes representam o mais antigo registro de plantas da família da uva no Hemisfério Ocidental, lançando luz sobre a expansão global da fruta após a extinção dos dinossauros.
“Essas são as uvas mais antigas já encontradas nessa parte do mundo, e são alguns milhões de anos mais jovens do que as mais antigas já identificadas em outras regiões”, afirma Fabiany Herrera, curador assistente de paleobotânica no Field Museum no Negaunee Integrative Research Center de Chicago e autora principal do artigo, em um comunicado.
Segundo ele, a extinção dos dinossauros criou condições que permitiram às uvas se espalharem globalmente.
O estudo sugere que a ausência dos dinossauros, que possivelmente derrubavam árvores, fazendo com que as florestas fossem mais abertas, permitiu que as matas ficassem mais densas, criando, assim, novas oportunidades para as plantas trepadeiras, como as uvas.
Mónica Carvalho, coautora do estudo e curadora assistente do Museu de Paleontologia da Universidade de Michigan, aponta que a diversificação de aves e mamíferos também pode ter facilitado a dispersão das sementes de uva.
Herrera e Mónica estavam conduzindo um trabalho de campo nos Andes colombianos quando um fóssil chamou a atenção. Ele estava em uma rocha de 60 milhões de anos, tornando-o não apenas o primeiro fóssil de uva da América do Sul, mas também um dos mais antigos do mundo. A equipe batizou o fóssil de Lithouva susmanii.
Quem inventou o vinho?
A descoberta do vinho pode ter acontecido de forma acidental, segundo historiadores. Quando as uvas eram colhidas e armazenadas em recipientes, o suco das frutas esmagadas, exposto ao ambiente, iniciava um processo de fermentação natural. Essa fermentação acontece quando leveduras presentes nas cascas das uvas convertem os açúcares do suco em álcool e dióxido de carbono. O resultado foi uma bebida alcoólica que, para a surpresa dos primeiros povos, possuía propriedades que eles passaram a apreciar e explorar.
As primeiras evidências de produção de vinho datam de aproximadamente 6.000 a.C., na região do Cáucaso.
Com o tempo, as práticas de cultivo e produção de vinho foram aprimoradas. As primeiras comunidades agrícolas começaram a selecionar videiras que produziam uvas de maior qualidade e a experimentar diferentes métodos de fermentação e armazenamento. Essas inovações foram transmitidas de geração em geração, dando origem a tradições vinícolas que persistem até hoje.
As videiras não permaneceram confinadas às regiões de origem. Elas foram levadas para outras partes do mundo por meio de migrações, comércio e expansão territorial. A partir daí, a viticultura se espalhou para o Mediterrâneo e a Europa, adaptando-se a diferentes climas e solos, o que resultou na ampla diversidade de vinhos que conhecemos atualmente.
A globalização da vinicultura foi também marcada por desafios, como as pragas filoxera e míldio, que devastaram vinhedos em várias regiões. A necessidade de combatê-las levou à introdução de práticas como o enxerto de vinhas em porta-enxertos resistentes, ajudando a preservar muitas variedades de uvas.
- Para saber mais: Conheça a filoxera, praga que dizimou vinhas europeias
Quem foi o primeiro produtor de vinho?
Evidências arqueológicas sugerem que o primeiro vinho do mundo foi produzido na região do Cáucaso, onde hoje fica Geórgia, Armênia, Azerbaijão e leste da Turquia.
Os georgianos utilizavam ânforas, grandes recipientes de barro chamados “qvevris”, para fermentar e armazenar o vinho. Os vasos eram enterrados no solo para que a fermentação acontecesse em temperaturas mais baixas. Essa prática, conhecida como vinificação em ânforas, ainda é usada na Geórgia e em outras partes do mundo.
Durante a Idade Média, a produção de vinho na Geórgia prosperou enquanto a região oriental do Mediterrâneo enfrentava as Cruzadas. Como nação cristã, a Geórgia permaneceu intacta pelo conflito, permitindo o desenvolvimento da agricultura e do comércio.
O fato de a Geórgia ficar fora do Império Otomano, onde a lei proibia o consumo de vinho, também contribuiu para o fortalecimento da viticultura no país até o final do século 19, quando as pragas filoxera e míldio, provenientes das Américas, destruíram aproximadamente 60,7 mil hectares de vinhedos.
Décadas depois, quando a Geórgia esteve sob controle soviético, os vinhedos foram replantados para suprir a demanda. Mas no final da década de 1980, aconteceu uma reviravolta. A campanha antiálcool de Mikhail Gorbachev, ex-líder da União Soviética, afetou profundamente as exportações de vinho da Geórgia e a economia local.
O vinho nas civilizações antigas
O vinho fez parte das civilizações antigas, incluindo Egito, Grécia e Roma. No Egito antigo, o vinho era uma bebida de luxo, reservada para a realeza e os nobres. Os egípcios tinham até uma deusa do vinho, Hathor, e acreditavam que a bebida tinha propriedades divinas. Registros históricos mostram que eles cultivavam vinhedos e produziam vinho em grande escala, utilizando técnicas de prensagem das uvas e de fermentação em grandes jarros.
Na Grécia antiga, o vinho era parte do dia a dia. Os gregos o consideravam uma dádiva dos deuses e atribuíam ao deus Dionísio a invenção da bebida. A bebida era consumida em simpósios e encontros sociais em que as pessoas discutiam filosofia, política e arte. A Grécia também foi responsável por disseminar o cultivo de videiras e a produção de vinho para outras partes da Europa.
Em Roma, o vinho era consumido por todas as classes sociais. Os romanos aperfeiçoaram técnicas de vinificação e armazenamento, incluindo o uso de barris de madeira e garrafas de vidro. Eles também disseminaram o cultivo de videiras e as práticas de vinificação por todo o Império Romano, influenciando a cultura do vinho em regiões que hoje são conhecidas por sua produção vinícola, como França, Espanha e Portugal.
A evolução da produção de vinhos ao longo dos séculos
A produção de vinho evoluiu ao longo dos séculos, com avanços tecnológicos e científicos transformando a maneira de elaboração. No início, a fermentação ocorria de forma espontânea, sem controle de temperatura ou das leveduras, resultando em bebidas com características variáveis mesmo quando produzidas a partir da mesma casta.
Com o tempo, surgiram técnicas que permitiram maior controle sobre o processo de vinificação. A introdução de leveduras selecionadas possibilitou aos produtores controlar o perfil aromático e o teor alcoólico dos vinhos. O controle de temperatura durante a fermentação se tornou uma prática comum, garantindo uma produção de bebidas mais consistentes e de alta qualidade.
A tecnologia também trouxe mudanças nos materiais utilizados na vinificação. Enquanto no passado o mosto fermentava apenas em recipientes de barro ou madeira, hoje o aço inoxidável é amplamente utilizado devido à sua neutralidade, que evita a adição de sabores indesejados ao vinho.
Técnicas específicas, como bâtonnage, fermentação malolática e fermentação em barricas de carvalho, contribuíram para a diversificação dos estilos de vinho.
A história do vinho é rica e complexa, entrelaçada com o desenvolvimento de muitas das grandes civilizações. Desde as primeiras vinhas no Cáucaso até as sofisticadas e atuais técnicas de vinificação, a bebida tem sido uma constante na cultura e na vida social de inúmeros povos.
Embora a resposta de quem inventou o vinho ainda não possa ser atribuída a uma pessoa, é claro que essa bebida milenar vem se tornando cada vez mais presente na mesa de todos e modernizando suas técnicas de vinificação.
A busca pelo vinho perfeito é uma jornada contínua, refletindo tanto o passado quanto o futuro dessa bebida.
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Flávia
Sommelier internacional pela FISAR/UCS, pós-graduada em Marketing e Negócios do Vinho pela ESPM. Há 10 anos atuando no mercado e através de diversos canais de mídia especializados no mundo do vinho. Propago conhecimento para enófilos e amantes da bebida. Falar sobre vinhos é um prazer!