Guia de uvas: conheça os vinhos da uva Barbera
As regiões mais frias do Velho Mundo são famosas por gerar vinhos intensos e rústicos. Entretanto, isso não é uma regra, pois a uva Barbera, natural da Itália, costuma dar origem a bebidas frutadas e pouco complexas.
Para saber mais sobre a origem, características e harmonização de um dos principais vinhos do Piemonte, leia nosso conteúdo até o fim!
Origem
De acordo com pesquisadores, a uva Barbera pode ter uma origem muito antiga. Arquivos do século 13 encontrados na comuna de Casale Monferrato, no Piemonte, contêm a inscrição “de bonis vitibus barbexinis” (ou “mercadorias de vinhas barbexinis”), uma provável menção à casta.
Durante os séculos seguintes, a Barbera foi utilizada como matéria-prima para vinhos baratos e sem muita expressividade. A principal razão para isso era sua alta fertilidade: as videiras dão origem a muitos frutos de uma vez, o que acaba deixando as vinhas sem muito sabor.
Já no século 19, devido à praga filoxera que dizimava as vinhas europeias, foi levada para o Novo Mundo, mais especificamente para Estados Unidos, Argentina e Austrália. Apesar disso, em nenhum desses países obteve tanto destaque quanto em seu terroir de origem.
A uva Barbera teve grande participação na reconstrução da viticultura na Itália para superar os estragos das pragas. No século 20, se destacou graças à sua alta fertilidade, se tornando uma das três varietais mais plantadas no país.
Nos últimos 30 anos, tem ocorrido um resgate por parte dos enólogos, a fim de mudar a mentalidade de que a Barbera apenas origina vinhos de baixa qualidade. Para isso, têm sido utilizados os estágios em barrica e um manejo mais cuidadoso com as vinhas, para que desenvolvam melhor seu sabor e características.
Características
Os frutos da uva Barbera podem ser facilmente identificáveis. Além da produção abundante nas videiras, são conhecidos por sua coloração roxo-azulada intensa e sua casca fina. Já os vinhos apresentam intensidade média, com uma coloração rubi com bordas violáceas.
Os aromas primários remetem a frutas vermelhas e negras, como cereja, morango, ameixa e amora. Quando cultivada no Piemonte, também pode apresentar notas sutis de rusticidade, como fazenda e ervas.
Essa varietal também é conhecida por apresentar alto teor de acidez e pouca presença de taninos. Por essa razão, os vinhos são melhor apreciados quando jovens, em até quatro anos.
Os vinhos da uva Barbera são uma boa escolha para quem está começando a consumir tintos, pois são menos agressivos ao paladar. Também são um ótimo “curinga” para reuniões entre amigos, pois harmonizam com uma boa quantidade de pratos e costumam agradar diferentes paladares.
Denominações de origem
Entre os vinhos Barbera produzidos na região do Piemonte, há duas denominações de origem notáveis: Barbera d’Asti e Barbera d’Alba, que são muito semelhantes.
Barbera d’Asti
Produzido nas proximidades da província de Asti, essa denominação deve ser feita pelo menos 90% com a uva Barbera. Além disso, precisa ser envelhecido por pelo menos quatro meses em barris de carvalho e apresentar teor alcoólico superior a 11,5%.
Sua coloração é mais atijolada que a dos Barberas comuns, e apresenta taninos aflorados e sabor encorpado.
Barbera d’Alba
Produzido na província de Cuneo, onde está situada a cidade de Alba, as regras de vinificação são muito similares: ao menos 85% das uvas utilizadas devem ser Barbera, e o título alcoométrico mínimo precisa ser 12%.
Entretanto, o Barbera d’Alba tende a ser mais encorpado, com uma presença maior de taninos.
Harmonização
Na hora de harmonizar vinhos Barbera, é necessário ter em mente que se trata de uma casta com taninos pouco presentes. Isso significa que os pratos não poderão ter uma grande intensidade, ou eles podem acabar neutralizando o sabor da bebida.
Apesar disso, a acidez do vinho é uma característica bem evidente, o que ajuda a neutralizar a untuosidade dos pratos. Isso pode ser bem utilizado para fazer boas combinações enogastronômicas.
Carnes bovinas ou suínas com um bom teor de gordura, porém com o sabor não tão acentuado, são ótimas opções. Pense em contrafilé, copa-lombo ou barriga de porco, sem molho e com temperos mais suaves. Carnes de caça ou ensopados também funcionam bem.
A harmonização entre vinhos Barbera e frutos do mar não é a ideal, pois o vinho pode sobrepujar seu sabor. Entretanto, peixes de água salgada com sabor mais acentuado podem funcionar bem.
Tanto para as carnes quanto para os peixes, uma sugestão é temperar com ervas frescas. Os aromas podem combinar com o vinho por similaridade, criando uma experiência bastante agradável.
Já com relação a massas, escolha molhos com pouca intensidade. Na região do Piemonte, a opção mais clássica é o talharim com molho de tomate e linguiça (com gordura e acidez) ou cogumelos.
Por fim, os queijos para harmonizar com a uva Barbera têm alto teor de gordura, mas sem apresentar muita pungência, já que o vinho não será capaz de equilibrar esse sabor. Feta, burrata ou queijos pouco curados funcionam bem.
Harmonização | |
Carnes | Bovinas e suínas com sabor suave; carnes de caça; peixes gordurosos e intensos. |
Massas e risotos | Talharim com molho de tomate e linguiça; cogumelos. |
Queijos | Feta, burrata, queijos pouco curados. |
Frutas | Cerejas azedas. |
A uva Barbera é uma das principais da região do Piemonte, e seus vinhos leves, pouco tânicos e frutados agradam muita gente. São ótimos para desfrutar com os amigos e acompanhar diversos tipos de pratos.
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Flávia
Sommelier internacional pela FISAR/UCS, pós-graduada em Marketing e Negócios do Vinho pela ESPM. Há 10 anos atuando no mercado e através de diversos canais de mídia especializados no mundo do vinho. Propago conhecimento para enófilos e amantes da bebida. Falar sobre vinhos é um prazer!