Guia de uvas: Carignan, uma ilustre desconhecida
Entre as uvas viníferas, há algumas mais famosas que outras. Cabernet Sauvignon, Chardonnay e Merlot são muito difundidas em todo o mundo e estrelas de inúmeros rótulos premiados. Entretanto, há castas menos conhecidas capazes de gerar excelentes vinhos.
É o caso da uva Carignan, original do Mediterrâneo. Não tem muitos holofotes, sendo utilizada principalmente em blends, porém, nas mãos de bons enólogos, produz vinhos varietais marcantes.
Ficou curioso? Continue a leitura e saiba mais sobre a história e as características dessa uva, além de dicas de harmonização!
História da uva Carignan
O local notável pela produção da uva Carignan é a região do Mediterrâneo. Alguns pesquisadores acreditam que ela tenha sido levada pelos fenícios, que habitaram a região durante a Idade Antiga.
O fato é que, a partir do século 14, passou a se espalhar entre o leste da Espanha, sul da França, a ilha Sardenha, na Itália, e o norte da África. Os produtores se interessavam pelo seu cultivo para utilizá-la em blends, pois acrescentava cor e corpo a vinhos mais leves.
Quando vinificada sozinha, entretanto, era utilizada como matéria-prima para vinhos de baixa qualidade, o que acabou provocando uma queda em sua popularidade.
No século 19, as vinícolas europeias foram devastadas por uma praga chamada filoxera, que atacava diretamente as raízes das vinhas. A Carignan teve um papel importante na reconstrução de uvas na França, por ser uma espécie que se adapta bem a solos mais secos.
Na mesma ocasião, também foi trazida ao Novo Mundo, onde se desenvolveu bem nos Estados Unidos, no Chile e na Argentina, países que têm uma produção notável da uva até hoje.
Desde os séculos seguintes até os dias atuais, vem reconquistando seu espaço, servindo como material para a produção de rótulos icônicos tanto no Velho quanto no Novo Mundo, seja em blends ou varietais.
Um indício disso é que, no final da década de 1980, chegou a ser a variedade mais plantada na França. Já em 2010, passou a ocupar a 13ª posição entre as uvas mais cultivadas do mundo, de acordo com a American Association of Wine Economists.
Origem do nome
A uva Carignan é chamada assim graças à cidade de Cariñena, localizada na província de Saragoça, na Espanha, um dos locais em que era encontrada em abundância durante a Idade Média.
Porém, vale reiterar que ela não tem somente esse nome. Na Espanha, ela pode ser chamada de Cariñena, Mazuelo e Samsó; na Itália, é conhecida por Carignano e Uva di Spagna; e na França, Monestel, Catalan, e por fim, Carignan, sua alcunha mais famosa.
Características da uva Carignan
Em sua aparência, a Carignan é similar a outras uvas tintas, com uma coloração roxa puxada para o azul anil. Já seu vinho é rubi levemente transparente com bordas violáceas.
No paladar, costuma remeter a outras uvas com características similares, como Garnacha, Syrah e Zinfandel. Apresenta média intensidade, com taninos moderados e acidez acentuada.
Já no nariz, você perceberá nuances de frutas vermelhas e negras, porém os aromas mais marcantes são os de especiarias, como cravo, canela e anis-estrelado. Algumas vezes, também podem puxar para um lado mais rústico, com notas de tabaco e fumaça.
Harmonização
Por fim, chegamos na parte da harmonização! Como falamos, apesar do corpo médio, os vinhos Carignan possuem características sensoriais bastante específicas, e isso deve ser levado em conta na hora de combiná-los com alimentos.
Começando pelas carnes, busque pratos com média intensidade, como lombo de porco, e aves assadas, como frango, pato e peru. Se preparados na churrasqueira, a experiência será ainda melhor, pois isso deve gerar similaridade aromática com as notas de defumação presentes no vinho.
A harmonização de Vinho Carignan e vegetais grelhados, como abóbora, tomate, pimentão, berinjela, cebola e cogumelo, também é deliciosa. Uma ideia é preparar um ratatouille, prato à base de legumes.
Tanto para as carnes quanto para os vegetais, é possível utilizar temperos de ervas frescas (coentro, tomilho, dill, alecrim e orégano) e de especiarias (cravo, canela, páprica e zatar).
Uma sugestão que sempre funciona é degustar seu vinho Carignan com um bom cordeiro assado temperado com ervas frescas. Para acompanhar, sirva molho de hortelã e coalhada seca.
Por fim, para todo bom vinho existem opções de queijos para harmonizar. Nesse caso, prefira os de pasta semidura, como gouda, emmental e gruyère. Um parmesão pouco maturado também pode servir bem!
Carnes | lombo de porco e aves assadas |
Vegetais | abóbora, tomate, pimentão, berinjela, cebola e cogumelo |
Queijos | gouda, emmental, gruyère |
Temperos | ervas frescas e especiarias |
Apesar de menos conhecida que algumas de suas parentes, a uva Carignan não deixa a desejar em sabores e aromas. Após ter passado por altos e baixos, vem reconquistando seu espaço e tende a estar cada vez mais nas taças dos brasileiros.
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Flávia
Sommelier internacional pela FISAR/UCS, pós-graduada em Marketing e Negócios do Vinho pela ESPM. Há 10 anos atuando no mercado e através de diversos canais de mídia especializados no mundo do vinho. Propago conhecimento para enófilos e amantes da bebida. Falar sobre vinhos é um prazer!