Guia de uvas: carménère, um símbolo dos vinhos chilenos
Falar sobre uva Carménère é falar sobre vinhos chilenos. E não é para menos: dos 11,3 mil hectares da cepa cultivados em todo o mundo, mais de 90% estão no país sul-americano.
Apesar de representar a qualidade dos rótulos chilenos em todo o mundo, a cepa é original da região de Bordeaux, na França, onde não teve tanta sorte e acabou por ser dizimada no século 19.
Quer saber mais sobre essa história, as principais características e dicas de harmonização da Carménère? Leia nosso guia até o fim!
Origem
O local onde a Carménère nasceu é incerto – alguns cientistas crêem que se trata de uma uva oriunda da Espanha, outros, que ela tenha se originado em Portugal. O primeiro registro que se tem, porém, é de que os romanos levaram-na para Médoc, na região francesa de Bordeaux, ainda durante os primeiros séculos depois de Cristo.
A uva nunca teve muita expressão no Velho Mundo, visto que na mesma região se originaram variedades notáveis, como Cabernet Sauvignon, Cabernet Franc, Merlot e Malbec. O fato mais notável acerca da Carménère no continente europeu seria justamente sua extinção, durante o século 19.
A praga filoxera
Todo enófilo já ouviu falar alguma vez na filoxera. Essa praga foi a principal vilã da vinicultura mundial, atacando os vinhedos de países europeus durante o século 19 e extinguindo plantações na França, Espanha, Itália e Portugal.
A uva Carménère foi um grande alvo da filoxera, sendo dizimada por completo do continente e especialmente de Bordeaux. Depois que a praga foi combatida, as vinícolas não conseguiram retomar sua produção, e foi aos poucos sendo substituída pelas demais castas da região.
Hoje, há produções bastante modestas na França, porém nada significativo. Após a década de 1990, algumas denominações de origem da Itália também passaram a aceitar a Carménère como parte do blend, o que faz com que a produção italiana seja ainda maior que a de seu país de origem nos dias de hoje.
Carménère no Chile
A história da Carménère no Chile está diretamente ligada à colonização europeia. Durante os séculos 18 e 19, era muito comum que uvas viníferas do Velho Mundo fossem importadas para o continente americano, incentivando a vinicultura no novo território.
Pela similaridade na aparência e características dos vinhos, a uva Carménère era confundida pelos chilenos com a Merlot. Durante quase 150 anos, os rótulos gerados pelas vinícolas do Chile apontavam para a casta incorreta.
Foi em 1994 que ocorreu o que é conhecido como a Redescoberta da Carménère. Durante uma ida de ampelógrafos e enólogos franceses ao Chile, foi possível verificar que alguns dos frutos chamados de Merlot tinham um tempo de cultivo mais longo.
A partir de um teste de DNA, foi possível saber que se tratava da Carménère, uma variação quase extinta na Europa. Essa descoberta mudou os rumos da indústria de vinhos do Chile, que passou a investir nesse fruto como forma de se destacar no mercado mundial.
A estratégia foi muito efetiva. Hoje, mais de 90% de sua produção é chilena, e a uva Carménère é conhecida no mundo todo como símbolo do Chile.
Características
Como já dito, a uva Carménère é muito similar à Merlot. Os frutos são pequenos e de cor roxo-azulada, e os vinhos têm corpo médio, com uma bela coloração rubi com bordas violáceas.
Seus aromas vão desde os mais comuns a uvas tintas, de frutas vermelhas (especialmente framboesa e ameixa) a notas bem características, como pimentão verde e pimenta-do-reino verde. Também pode entregar notas de ervas, mineralidade, baunilha e cacau, de acordo com o terroir ou os métodos de vinificação.
Com relação ao paladar, sempre espere por um vinho de intensidade média, desde peso de boca e graduação alcoólica à presença de taninos e acidez. Por essa razão, costuma ser agradável a boa parte dos paladares.
Harmonização da Carménère
Vinhos com corpo médio harmonizam com pratos com a mesma intensidade. Por isso, a uva Carménère pode acompanhar frutos do mar bem condimentados, carnes brancas e vermelhas, massas, risotos e queijos, entre muitas outras opções.
Começando pelas carnes: no caso das brancas, sempre opte por temperos mais fortes ou molhos carregados para que o vinho não ultrapasse o sabor do prato. Já para as vermelhas, escolha cortes bovinos e suínos com pouca gordura e sabor equilibrado, como filé mignon, ponta de peito e copa-lombo.
Pratos à base de carne comumente harmonizados com Carménère são porco ou peru assados, cordeiro ao molho de hortelã e ensopado de carne bovina.
Os vinhos com notas herbáceas combinam com pimentões assados, feijões de todos os tipos e lentilhas. Para temperar a comida, utilize pimenta-do-reino, orégano, cebolinha, cominho, limão e alho.
Os queijos que acompanham bem a uva mais popular do Chile são os de massa mole, como feta, monterey jack, mozzarella e cotija.
Harmonização | |
Carnes | filé mignon, ponta de peito; porco assado; cordeiro |
Queijos | feta, monterey jack, mozzarella e cotija |
Massas e risotos | molho vermelho |
Vegetais | pimentões assados; feijões e lentilhas |
Apesar de ter sido cultivada por séculos na França, foi no Chile que a uva Carménère encontrou seu principal terroir e ganhou reconhecimento. Hoje, é quase exclusiva do país sul-americano, apesar de exportada e apreciada no mundo todo.
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Flávia
Sommelier internacional pela FISAR/UCS, pós-graduada em Marketing e Negócios do Vinho pela ESPM. Há 10 anos atuando no mercado e através de diversos canais de mídia especializados no mundo do vinho. Propago conhecimento para enófilos e amantes da bebida. Falar sobre vinhos é um prazer!