Guia de uvas: pinot noir e seus vinhos leves e elegantes
Quando falamos em vinhos tintos, é comum que se pense em bebidas intensas e de coloração escura, com paladar tânico e encorpado. No entanto, essa não é uma regra, e alguns rótulos podem destoar dessa definição.
A uva pinot noir, por exemplo, é conhecida como “a mais branca das uvas tintas”, justamente por ter características mais leves quando comparada às outras cepas similares de casca escura.
Neste guia de uvas, vamos desvendar a história da pinot noir, suas principais características sensoriais, apresentar dicas de pratos para harmonização e sugestões de vinhos da categoria disponíveis no divvino.com.br. Continue a leitura e confira conosco!
Origem
A pinot noir está diretamente ligada à região francesa da Borgonha. De acordo com alguns pesquisadores, ela existe nesse território desde o primeiro século depois de Cristo, e pode ter sido levada por outros povos, como os romanos ou os bárbaros. Na época, era conhecida como ”pineau de Bourgoyne”, “franc pineau” e “pynos”.
Segundo o historiador John Winthrop Haeger, em seu livro North American Pinot Noir, foi apenas por volta de 1375 que a uva foi citada em um documento oficial, já como pinot noir, nome que assumiria dali por diante. O autor era Filipe II, o Audaz, duque da Borgonha, que recebeu cerca de 11 barris do vinho como presente de casamento.
Graças à sua ótima reputação, a uva se espalhou nos séculos seguintes por outras regiões da França, como Champagne, Loire, Alsácia, e até para regiões da Alemanha, onde ganhou o nome de Spätburgunder.
Já no século 19, graças a imigrantes e produtores de vinho de outros países, a pinot noir chegou ao Novo Mundo. Os principais países produtores fora da França são África do Sul, Estados Unidos, Chile e Nova Zelândia. No Brasil, a casta é muito utilizada em cortes de vinhos espumantes.
O DNA da pinot noir
Muito se especulou a respeito das origens e do DNA da pinot noir, justamente por tratar-se de uma variação tão antiga. A pesquisadora viticulturista Carole Meredith, da Universidade da Califórnia, descobriu por meio de testes genéticos que a uva é parente próxima de outras cepas, como chardonnay e aligoté.
Sua linhagem, porém, não parou por aí. A pinot noir também originou muitas outras uvas viníferas, como pinot meunier (também conhecida na Alemanha como Schwarzriesling), pinot grigio e pinot blanc.
Outra famosa uva derivada é a pinotage. Ela foi criada pelo professor Abraham Izak Perold, na África do Sul, por meio de um cruzamento genético em laboratório entre a pinot noir e a hermitage.
Características da uva pinot noir
Quem vê as uvas pinot noir pode se enganar pela aparência roxa azulada escura, similar a outras cepas tintas. Entretanto, essa intensidade não aparece em taça, já que seus vinhos têm coloração translúcida, em vista da casca fina e delicada da cepa.
Justamente por conta dessa pele fina, é uma casta que demanda cuidados minuciosos para a produção de vinhos. Além da rápida maturação, a pinot noir é muito sensível às condições climáticas e pragas. Ou seja, ela tende a apresentar características bastantes distintas entre si, a depender da safra e região onde é produzida.
No geral, ela se adapta melhor em climas temperados, gerando rótulos com acidez mais acentuada, de aromas mais intensos e complexos. Em contrapartida, o cultivo em regiões quentes permite a produção de vinhos mais encorpados e de menor complexidade aromática.
Se produzidas com os cuidados necessários e em clima adequado, as bebidas feitas com a pinot noir diferem de boa parte das uvas tintas mais clássicas, como cabernet sauvignon e merlot. Apresentam corpo de leve a médio, baixa concentração de taninos e acidez entre média e alta, dependendo do rótulo.
No que se refere aos aromas, são um show à parte. Entregam desde frutas vermelhas sobremaduras quando jovens, como cerejas e framboesas, a cogumelos, toffee e cacau, ao apresentar mais idade.
Quando passam por envelhecimento por barrica ou evolução em garrafa, também podem aparecer aromas mais rústicos, como de cogumelos, couro e solo. Além disso, a evolução da bebida na garrafa permite o surgimento de notas herbáceas e animais.
Pinots noirs brancos, espumantes e rosés
Apesar de ser uma uva tinta, a pinot noir pode gerar vinhos brancos. Para que isso seja possível, a casca da fruta é retirada no início da vinificação, durante a prensagem dos frutos. Rótulos brancos produzidos somente com uvas tintas são chamados de blanc de noirs.
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Além disso, ela figura entre as três castas utilizadas na produção de Champagnes, na Appellation d’Origine Contrôlée (A.O.C.) francesa. Por lá, pode-se elaborar varietais pinot noir ou cortes com duas outras uvas: pinot meunier e chardonnay, utilizando o método Champenoise, em que a segunda fermentação do líquido ocorre em garrafa.
A pinot noir também é utilizada na produção de rosés. Em geral, são vinhos delicados, com aromas de frutas vermelhas maduras como morangos e cerejas, além de notas florais como rosas, praticamente sem taninos e com ótima acidez.
Dia Internacional da Uva Pinot Noir
O Dia Internacional da Uva Pinot Noir é comemorado em 18 de agosto. É a oportunidade perfeita para abrir sua melhor garrafa de pinot e apreciar todas as nuances de uma das castas mais emblemáticas do mundo dos vinhos!
Principais regiões produtoras de pinot noir
Ainda que a região de maior destaque da casta seja a Borgonha, os pinot noirs franceses não são os únicos rótulos que ganharam reconhecimento mundial. Outros países tiveram sucesso no cultivo da uva, incluindo o Brasil e seus espumantes de excelente qualidade.
África do Sul
O clima temperado da região sul-africana propiciou o cultivo da casta. Lá, os rótulos da categoria têm como principais características coloração mais intensa, aromas de frutas vermelhas maduras e notas florais.
Estados Unidos
Curiosamente, apesar do clima quente da região, é na Califórnia que a pinot noir brilhou em território americano. O país é, inclusive, o segundo maior produtor do mundo, estando atrás apenas da França, mais especificamente a Borgonha.
Por conta do clima quente, os vinhos californianos da uva pinot moir são mais encorpados e apresentam aromas de compota de frutas vermelhas e especiarias.
Chile
Por conta das características similares ao terroir da Borgonha, a região do Vale Central do Chile permitiu o sucesso no cultivo e produção de ótimos vinhos da uva pinot noir.
Com clima frio, solo mineralizado e as barreiras geográficas – Deserto do Atacama, Cordilheira dos Andes e Oceano Pacífico – produtores chilenos conseguem desenvolver rótulos frescos, com taninos suaves, com aromas frutados e leve toque herbáceo.
Nova Zelândia
Na Nova Zelândia, a uva pinot noir ganhou tamanha importância que é hoje a segunda casta mais cultivada no país. O clima ameno em grande parte da região, além dos invernos rigorosos em áreas como a Ilha Sul, permite o desenvolvimento de rótulos elegantes, aromáticos e frescos.
Com o aprimoramento do cultivo e produção, o país elabora hoje alguns dos melhores vinhos pinot noir.
Alemanha
A Alemanha é a terceira maior produtora de pinot noir, atrás apenas da Borgonha e dos Estados Unidos. Lá, leva o nome Spätburgunder.
Os exemplares alemães são leves, de coloração menos intensa, têm aromas de frutas vermelhas e pretas, além de apresentarem pouco corpo e taninos. Quando estagiam em barricas, tornam-se encorpados e intensos.
Brasil
No Brasil, o grande destaque da pinot noir é em cortes de vinhos espumantes. Como a casta é bastante delicada e se adapta melhor em climas temperados, é na Serra Gaúcha e em Santa Catarina que a uva ganha destaque maior destaque.
Apesar de estar muito presente nos espumantes brasileiros, alguns produtores desenvolvem pinots tintos varietais, que apresentam notas complexas, devido a sua passagem por barricas de carvalho.
Harmonização do pinot noir
Mas, afinal, se é tão diferente dos demais tintos, o vinho pinot noir combina com o quê? Na verdade, os rótulos feitos com essa uva são bastante versáteis quando se trata de harmonizá-los com alimentos e podem acompanhar diversos tipos de pratos.
Gosta de carne bovina? Os pinot noirs harmonizam bem com medalhões de filé-mignon. Prefere outros tipos de carne? Cortes suínos sem muita gordura, aves de caça, como pato e codorna, além de frango assado, são outras opções que podem servir como acompanhamento.
Também há algumas variações: os pinots mais frutados e frescos vão muito bem com carnes curadas de charcutaria, os mais adocicados podem acompanhar bem peixes que possuem mais gordura, como o salmão, e os mais encorpados e potentes são perfeitos para harmonizar com carré de cordeiro.
Outros pratos franceses que correspondem bem são o boeuf bourguignon e o coq au vin. Típicos da Borgonha, levam esse tipo de vinho entre os ingredientes.
Se você não consome carne, não se preocupe. O pinot noir também harmoniza muito bem com risotos de cogumelos, vegetais assados e pizza com queijo.
E por falar em queijo, esses vinhos combinam com os tipos de pasta mole, como os de cabra, brie e camembert. Os rótulos mais encorpados também devem harmonizar com queijos azuis, como gorgonzola e roquefort.
Carnes | carnes bovinas e suínas sem gordura, frango e aves grelhadas, cordeiro |
Pratos | boeuf bourguignon e coq au vin |
Queijos | queijos de cabra, brie e camembert; gorgonzola e roquefort |
Pratos vegetarianos | risotos de cogumelos, vegetais assados e pizza com queijo |
Vinhos pinot noir no Divvino
Agora que você já conhece a origem e as características da uva pinot noir, até mesmo como harmonizá-la, listamos abaixo algumas dicas de rótulos da casta para você ter uma experiência completa com essa cepa francesa.
Vinho Tinto Chileno La Junta Reserva Pinot Noir
O primeiro rótulo da nossa curadoria é este varietal da uva pinot noir, elaborado no Vale do Maipo, no Chile. Com visual rubi intenso, tem aromas de frutas pretas maduras e especiarias como baunilha. Em boca, notam-se taninos envolventes e boa acidez.
Para harmonizá-lo, aposte em carnes vermelhas magras e peixes, como salmão e tainhas. Massas ao molho branco e lasanha quatro queijos também são boas escolhas. Sirva-o entre 16ºC e 20ºC.
Vinho Rosé Luiz Argenta Jovem
Quer experimentar um vinho rosé pinot noir? Então, esta é a escolha ideal para você! Este rótulo é, na verdade, um blend da uva francesa com a syrah, elaborado com frutos de safras mais recentes, o que resulta em uma bebida jovem, leve e irresistível!
Tem coloração rosa tênue, aromas de frutas, como morango, cereja e framboesa, além de toques florais. No paladar, corpo médio e final de boca intensamente frutado.
Pode ser harmonizado com bruschettas, caponata, massas ao molho de queijo ou bechamel, lasanha de frango, pizza quatro queijos, sashimi de peixe, carpaccio de salmão e carnes brancas grelhadas. Para apreciá-lo da melhor maneira, sirva-o entre 7ºC e 13ºC.
Champagne Francês Moutard Grande Cuvée Brut
Não poderíamos deixar de sugerir um rótulo francês! Neste caso, trata-se de um blanc de noirs, elaborado exclusivamente com a uva pinot noir, na região de Champagne.
Visualmente, tem coloração amarelada de tons esverdeados e perlage fina. Seus aromas são cítricos, com notas de brioche e damasco. Em boca, é estruturado, tem espuma de textura cremosa e um frescor delicioso. Harmoniza com peixes grelhados. Para garantir seu potencial máximo, sirva-o entre 7ºC e 13ºC.
Espumante Salton Ouro Brut
Para finalizar, um espumante brasileiro, elaborado na Serra Gaúcha com as uvas chardonnay, pinot noir e riesling!
Visualmente, tem coloração amarelo-claro, com borbulhas finas e persistentes. No nariz, aromas de pão torrado, nozes, amêndoas, flores e frutas cítricas. No paladar, tem boa acidez e muita cremosidade. Ideal para acompanhar frutos do mar, sopas e carnes brancas.
A uva pinot noir está entre as preferidas de muitos apreciadores de vinhos. Sua tradição milenar, juntamente com sua complexidade aromática e versatilidade na hora de harmonizar, são características cativantes e que tornam essa variedade uma das mais cultivadas e admiradas pelo mundo.
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Flávia
Sommelier internacional pela FISAR/UCS, pós-graduada em Marketing e Negócios do Vinho pela ESPM. Há 10 anos atuando no mercado e através de diversos canais de mídia especializados no mundo do vinho. Propago conhecimento para enófilos e amantes da bebida. Falar sobre vinhos é um prazer!