Guia de uvas: Tannat, símbolo dos vinhos uruguaios
Se você já tomou um vinho uruguaio, é provável que conheça a uva Tannat, que se tornou um ícone do país sul-americano. Apesar disso, ela é originária do sul da França, onde continua muito popular até hoje.
Independentemente de seu local de produção, é conhecida por originar vinhos encorpados e intensos, e também por ser rica em polifenóis, princípios bioativos e antioxidantes que fazem bem à saúde.
Quer saber mais sobre história e as particularidades dessa uva, e também dicas de harmonização? Acompanhe nosso post!
Origem
O provável berço da uva Tannat é o território entre o sul da França e o País Basco (nordeste da Espanha), conhecido como Pireneus. O fruto vem de uma família de uvas que está presente na região desde a Roma Antiga.
De acordo com o guia Wine Grapes, de Robinson, Harding e Vouillamoz, a primeira vez que a Tannat foi mencionada foi no ano de 1783. Seu nome deriva do dialeto da região de Béarn e significa “tostada, bronzeada”, uma provável referência à coloração escura da uva.
Já no século 19, a cepa se popularizou na França graças à sua alta produtividade. Até hoje, permanece sendo muito cultivada na região de Pireneus, ao sul do país, e em menores quantidades em Cahors.
Na mesma época, foi trazida à América do Sul, primeiro à Argentina e depois ao Uruguai, onde acabou se desenvolvendo muito bem e se espalhando com rapidez. Foi a partir da década de 1970, com o avanço das técnicas de vinificação e o estabelecimento das regiões vinícolas do país, que a Tannat se tornou a varietal mais importante do país.
Além do Uruguai e do sul da França, é cultivada em outros países do Novo Mundo, como Argentina, Brasil, Peru e Estados Unidos.
Características
A aparência das uvas Tannat diz muito sobre o seu vinho: a coloração é roxo escura, levemente azulada, às vezes até se assemelhando a jabuticabas, e as cascas são bastante grossas e resistentes.
Essas características também são observadas em taça: os rótulos produzidos com a Tannat são conhecidos por sua cor intensa, com bordas violáceas. O vinho chega a ser tão escuro que, muitas vezes, não apresenta nenhuma translucidez.
Além disso, graças às suas cascas escuras e grossas, as bebidas feitas com a cepa têm grandes quantidades de polifenóis (como os taninos) que, consequentemente, oferecem mais benefícios à saúde.
Quando for apreciar um Tannat, espere por uma bebida intensa, com taninos bem presentes e graduação alcoólica um pouco acima do comum. O nível de acidez costuma ser equilibrado.
Os aromas e sabores mais comuns relacionados a esses vinhos são de frutas negras (groselhas e ameixas) e especiarias (canela e cardamomo). Também pode conter notas de chocolate amargo e fumaça.
Um fato importante é que muitos dos vinhos Tannat são envelhecidos em barris de carvalho, processo que deixa os taninos mais aveludados e auxilia no desenvolvimento da bebida.
Tannat francês x Tannat uruguaio
A área de produção dessa uva é muito similar na França e no Uruguai: em ambos os casos, as plantações de Tannat ocupam cerca de 3 mil hectares. Para o país europeu, entretanto, esse número equivale a 0,3% do total; já para o sul-americano, representa 36%, sendo a principal cepa da região.
Mesmo sendo exatamente a mesma uva, as condições climáticas, o solo e as técnicas de vinificação – ou seja, o terroir – de cada um dos países fazem com que os vinhos produzidos sejam muito diferentes.
Na França, graças ao clima mais frio, as uvas não desenvolvem tantas características frutadas, gerando vinhos muito adstringentes e secos. Por essa razão, muitas vezes são feitos blends com Cabernet Sauvignon ou Cabernet Franc, suavizando a bebida.
Já no Uruguai, os taninos são mais macios e as nuances de frutas negras são mais abundantes. Os blends uruguaios também são comuns, porém para acrescentar características às bebidas. Geralmente, são feitos com Pinot Noir, Merlot ou Syrah.
Harmonização
A primeira coisa que se deve saber para a harmonização de um Tannat é que todo vinho robusto pede pratos igualmente robustos, ou seu sabor pode predominar sobre o do alimento.
Quando falamos em carnes vermelhas, podemos escolher pratos com bastante intensidade de sabor e gordura, como hambúrgueres, picanha ou costela bovina, linguiça suína e carnes de caça. O preparo na churrasqueira pode melhorar ainda mais graças às notas defumadas, presentes tanto na bebida quanto na comida.
Pratos à base de defumados e miúdos suínos, como o cassoulet francês e a tradicional feijoada brasileira, também são uma ótima pedida para acompanhar uma taça de Tannat.
Queijos e vinho Tannat também são uma ótima combinação. Prefira os de pasta dura, como parmesão e pecorino, ou os de pasta mole azuis, como roquefort e gorgonzola.
Por fim, uma harmonização que alguns apreciam é entre Tannat e chocolate amargo. O ideal é que o doce tenha pelo menos 60% de cacau, ou o dulçor pode gerar uma sensação adstringente no paladar.
Carnes | churrasco, hambúrguer e carnes de caça |
Pratos | feijoada e cassoulet |
Queijos | parmesão e pecorino; roquefort e gorgonzola |
Doces | chocolate amargo |
Os vinhos da uva Tannat, sejam do Uruguai, da França ou de outras regiões, são ideais para quem gosta de tintos encorpados e intensos e de harmonizações com pratos igualmente potentes.
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Flávia
Sommelier internacional pela FISAR/UCS, pós-graduada em Marketing e Negócios do Vinho pela ESPM. Há 10 anos atuando no mercado e através de diversos canais de mídia especializados no mundo do vinho. Propago conhecimento para enófilos e amantes da bebida. Falar sobre vinhos é um prazer!